Heitor Brasileiro Filho
Não vou falar do nosso
escritor-mor, nem daqueles que conseguiram notoriedade no campo das letras por
este país a fora. Primeiro porque muitos já o conhecem e até mesmo àqueles que
não leram ainda uma de suas obras, certamente já ouviu falar. Entretanto, estes,
anônimos tecelões da literatura ilheense às vezes passam despercebidos por nós,
na Rua Dom Pedro II, quando se debruçam para ver as últimas novidades da
literatura nacional e internacional na Livraria Papirus – o único point das
letras de Ilhéus.
Talvez eu não consiga nomear
todos neste pequeno espaço, mas, certamente trarei à memória os nomes que tenho
visto, paulatinamente, entrar no mercado ou criar seu próprio nicho. Assim, eu
começo com o homem do conto direto: Rodrigo
Melo, que recentemente admitiu que “a culpa” da seleção canarinho perder a
copa de 1982 é dele. Quer saber como, é só ler a coletânea de contos do livro
“Uma copa, 15 histórias,” onde Rodrigo, o ilheense que nasceu no ano do javali,
no ano que Neruda se vingou, nos brinda com um dos seus escritos.
Meu taciturno, e extremamente
observador, amigo, Heitor Brasileiro
Filho, para quem os versos saltam de seus hai-kais e poemas, finalmente
lançou para o mundo sua primeira obra “O Chão e a Nuvem”, fazendo de sua poesia
– como ele próprio afirma – “seu esporte radical.” Heitor que, certeiro e
profundo percebeu que “Não havia mais/caminho/só/uma pedra”, uma referência
direta a epidemia que nos assola.
Debruçado sobre a estante,
deparo-me com Geraldo Lavigne de Lemos
“À Espera do Verão”. Geraldo, como bem afirma Bruno Susmaga na apresentação do
livro, “é aquele menino que o bom e velho Ton (Ton era seu pai), apertava nos
braços e apontava o horizonte...”. Geraldo que ao descrever “culto aos homens”
descobre que “com seus anseios tolos/abre veredas/sobre os espinhos/e espera
caminhar confortável.”
Pego no visgo da jaca, aberta à
minha frente, e recordo-me de “Visgueira”, poema de André Rosa, que me faz entender que “Eu tenho a língua torta/Dos
dias vadios/E os membros rijos/De um jequitibá maduro.” Pergunto-me: pode
brotar versos perspicazes de um doutor da nossa história? E a resposta é
imediata: Sim! Então, ao folhear “Quintais do Tempo”, de André, onde
“Visgueira” e outros poemas compõem sua obra, me emociono.
E, se, de repente, enveredo-me
pelo mundo dos duendes e mágicos, cheio de porções antigas, dou de cara com a
mineira, radicada ilheense, Sílvia Kimo
Costa. Afinal, “quem disse que mau-humor é coisa somente para adultos? O
pequeno feiticeiro Lucas vive no Mundo dos Sonhos, onde também mora uma
turminha super alto-astral... mas ele é tão mau-humorado! Então, Lucas vai
descobrir o segredo deste mal através de uma poção, feita pela bruxinha Carol.”
É assim que começa “A Porção que Espanta o Mau-humor” de Sílvia. “Uma
historinha que se passa na Floresta Encantada e revigora o mundo da fantasia,
dos sonhos, em meio a muitas ilustrações, que tornam o texto mais vivo e
colorido.”
“Este é o meu quintal,/Minha cancela
aberta,/Árvore arraigada na minha história,/Com sementes que trago nas minhas
mãos fechadas.” Assim finaliza Rita
Santana o poema “Dona Ester Ferreira”, quando lançou seu primeiro livro “Tratado
das Veias.” Rita, a poetisa e atriz que, como bem afirma Jorge de Souza Araújo
(este dispensa comentários), “atua e encena em sua poética vibrantes exercícios
de memória telúrica e evocações imperecíveis.”
E por fim, querido amigo leitor,
“há sempre um risco de iniciar-se um verso no papel vinco ao acaso,” relata o
premiado poeta Marcos Vinicius Rodrigues,
autor de “Pequeno Inventário das Ausências” (Prêmio Brasken 2001), um ilheense “andando sobre o lodo do
mar que esvai.”
Rodrigo, Heitor, Geraldo, André,
Sílvia, Rita e Marcos são apenas “a ponta do iceberg.” Homens e mulheres apaixonados
pela escrita, pelo verso, pela palavra livre, pelo amor às letras.
Fotos: (De cima para baixo: Heitor Brasileiro, Rodrigo Melo, Sílvia Kimo, Geraldo Lavigne, André Rosa, Rita Santana e Marcos Vinicius Rodrigues.
Nenhum comentário:
Postar um comentário