sexta-feira, 19 de outubro de 2012

EDITORIAL

“Considero a organização da Cultura no país, como um dos maiores fatos já ocorridos deste a criação do Ministério da Cultura nos anos 80.”
P.C.

VIVA A ORGANIZAÇÃO DA CULTURA

Juca Ferreira e Gilberto Gil, ex-ministros da Cultura
A revista Bravo! deste mês (edição 182) acaba de publicar os 15 fatos mais relevantes da Cultura brasileira nos últimos quinze anos. Confesso que fiquei em parte, decepcionado. Digo, em parte, porque alguns dos acontecimentos mais marcantes deveriam ter sido retratados de forma imparcial, a exemplo do florescimento da escrita, o sucesso do cinema de ação no Brasil, a renovação do documentário, a ascensão da música independente e a disseminação do Teatro de Grupo. É óbvio que neste último, o jornalista responsável por eleger este fato cita apenas grupos do Rio de Janeiro (Companhia dos Atores), Belo Horizonte (Galpão), Porto Alegre (Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz), Curitiba (Companhia Brasileira de Teatro) e Campinas (Lume). Cita ainda como grande avanço deste segmento a lei 13.279, que institui em 2002 o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. “Fruto da reivindicação de trupes jovens e veteranas, reunidas em torno do Movimento Arte Contra a Barbárie”, assinala o também pesquisador, Valmir Santos. Esquece de grupos importantes como O Bando de Teatro Olodum, criado por Márcio Meirelles na capital baiana e o Teatro Popular de Ilhéus, ou seja, do interior. Sem citar o Piolim na Paraíba e tantos outros.
O fato é que, o surgimento de uma Broadway nacional, levando em consideração o teatro musical no Brasil, apesar das megaproduções como Ópera doMalandro (2003) e o Fantasma da Ópera (2005), citado como um dos fatos mais impressionantes dos últimos quinze anos; a revitalização da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo; o nascimento do Instituto INHOTIM, em Minas Gerais, uma espécie de museu a céu aberto e a nacionalização da alta gastronomia deixam claro o ponto de vista da revista de atestar que o que surgiu de melhor nestes 15 anos (também da revista) na Cultura estão concentrados nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do país. Que lástima.
A revista acerta ao reconhecer o crescimento internacional da arte contemporânea brasileira, da explosão da dança, da descoberta da periferia pelo centro, do advento das semanas de moda que revelou talentos como o jovem Pedro Lourenço, de 21 anos. E, claro, o boom dos quadrinhos brasileiros. André Forastieri foi feliz ao afirmar que o mercado brasileiro de quadrinhos vive, de fato, seu melhor momento. “Brilha em biografias, adaptações de clássicos literários e álbuns com temas históricos.”
Entretanto, considero a organização da Cultura no país, como um dos maiores fatos já ocorridos deste a criação do Ministério da Cultura nos anos 80. A noção de “Sistema”, a ampliação da visão da cultura como elemento simbólico, cidadã e econômico, a criação do Programa Cultura Viva, a reestruturação da FUNARTE, o direcionamento dos recursos estatais para a cultura por meio de seleções públicas, o debate em torno do Plano Nacional da Cultura, a criação do Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais e o Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural são, para mim, uma questão selada.
Organizar a Cultura deste país possibilitou a descentralização de recursos que antes ficavam somente nas regiões em que a Bravo! diz ocorrer os mais significativos fatos nacionais. Houve uma polarização de ideologias, surgiram tecnologias intermediárias e percebeu-se a importância das profissões relacionadas à organização da Cultura.
Obrigado, Gil! Obrigado, Juca! Vocês, sim, conseguiram mudar a visão de Cultura, não só da Bahia, onde nasceram, mas do Brasil. Este país tão diverso, tão múltiplo e tão desigual.

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