sexta-feira, 7 de setembro de 2012

EDITORIAL


A VIOLÊNCIA É ANORMAL.
PRECISAMOS EXPULSAR JESUÍNO


Em tempos de inflação, eleição ou seleção (a de futebol mesmo) quando se bate demais nestes assuntos eles se tornam corriqueiros e tão comuns que as pessoas já não leem ou ouvem nada do que lhes diz respeito. E, se alguém lhes pergunta se ouviram esta ou aquela notícia sobre um dos temas citados dizem, simplesmente, que ouviram falar, mesmo não tendo lido ou visto nada a respeito. Isto acontece porque a notícia ficou vulgar.
O que dizer então da violência? Os dados são alarmantes, ao ponto de colocar a vizinha cidade de Itabuna na quarta posição do ranking dos municípios com mais de 20 mil crianças e adolescentes com as maiores taxas de homicídios do Brasil. A pesquisa, realizada pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos e pela Fracso Brasil e coordenada pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz chama de “taxas totalmente inaceitáveis que exigem medidas concretas para deter esse verdadeiro infanticídio.”
Ilhéus não aparece no relatório das cem cidades que mais usam de violência contra os jovens, apesar de estarmos vivendo tempos difíceis, com assassinatos, roubos, furtos e assaltos. Este último se tornou banal, pois quase sempre a vítima não vai à delegacia dar queixa. Mesmo porque o celular roubado ou a carteira, nunca são devolvidos.
Os mesmos promotores do estudo lançaram também um Mapa paralelo sobre a violência contra a mulher. E, desta vez, caro leitor, Ilhéus aparece na 41ª. posição dentre as 100 cidades brasileiras que mais cometem homicídios contra a mulheres. O espírito do coronel Jesuíno, o mesmo que matou Dona Sinhazinha, na obra de Jorge Amado, ainda impera nestas Terras do Sem Fim, mesmo que velado pela imprensa ou escondido pela sociedade.
O Brasil, na violência contra a mulher aparece na sétima posição do ranking internacional. As armas de fogo surgem como o principal instrumento de morte, seguido do contato direto com a utilização de objetos cortantes, contundentes e de sufocação. A faixa etária está entre os 15 e 29 anos, embora tenha crescido na última década analisada para o intervalo de 20 a 29 anos.
Pois bem, se não fosse pela campanha do disque 180 ou pela Lei Maria da Penha, este índice teria aumentado. Apesar de muitas mulheres ainda manterem silêncio com receio de perder os filhos ou até mesmo a casa onde moram. Parece banal, mas não é. Muitas mulheres dependem de seus maridos para ter o que comer. Entretanto, isto não justifica a violência doméstica, nem nunca justificará.
Não podemos correr o risco de ligar a TV ou o rádio e ouvir a notícia de que mais uma mulher, uma criança ou um adolescente foi assassinado e acharmos que é normal. Afinal, normal é ter a certeza de que estamos seguros, em qualquer canto desta cidade. Senão, iremos passar sobre cadáveres espalhados pelo calçadão da Marquês de Paranaguá e considerar o defunto apenas como uma pedra no caminho. A violência é anormal. E o que é anormal é aberrante, monstruoso, desigual e injusto. Afinal, quem transgride as regras e os preceitos de dignidade pré-estabelecidas em uma sociedade, não pode ser normal.

Pedro Doyle
Articulista

Nenhum comentário: