A
VIOLÊNCIA É ANORMAL.
PRECISAMOS
EXPULSAR JESUÍNO
Em tempos de inflação,
eleição ou seleção (a de futebol mesmo) quando se bate demais nestes assuntos
eles se tornam corriqueiros e tão comuns que as pessoas já não leem ou ouvem
nada do que lhes diz respeito. E, se alguém lhes pergunta se ouviram esta ou
aquela notícia sobre um dos temas citados dizem, simplesmente, que ouviram
falar, mesmo não tendo lido ou visto nada a respeito. Isto acontece porque a
notícia ficou vulgar.
O que dizer então da
violência? Os dados são alarmantes, ao ponto de colocar a vizinha cidade de
Itabuna na quarta posição do ranking dos municípios com mais de 20 mil crianças
e adolescentes com as maiores taxas de homicídios do Brasil. A pesquisa, realizada
pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos e pela Fracso Brasil e
coordenada pelo sociólogo Julio Jacobo
Waiselfisz chama
de “taxas totalmente inaceitáveis que exigem medidas concretas para deter esse
verdadeiro infanticídio.”
Ilhéus não aparece no
relatório das cem cidades que mais usam de violência contra os jovens, apesar
de estarmos vivendo tempos difíceis, com assassinatos, roubos, furtos e
assaltos. Este último se tornou banal, pois quase sempre a vítima não vai à
delegacia dar queixa. Mesmo porque o celular roubado ou a carteira, nunca são
devolvidos.
Os mesmos promotores do
estudo lançaram também um Mapa paralelo sobre a violência contra a mulher. E,
desta vez, caro leitor, Ilhéus aparece na 41ª. posição dentre as 100 cidades brasileiras
que mais cometem homicídios contra a mulheres. O espírito do coronel Jesuíno, o
mesmo que matou Dona Sinhazinha, na obra de Jorge Amado, ainda impera nestas
Terras do Sem Fim, mesmo que velado pela imprensa ou escondido pela sociedade.
O Brasil, na violência
contra a mulher aparece na sétima posição do ranking internacional. As armas de
fogo surgem como o principal instrumento de morte, seguido do contato direto
com a utilização de objetos cortantes, contundentes e de sufocação. A faixa
etária está entre os 15 e 29 anos, embora tenha crescido na última década
analisada para o intervalo de 20 a 29 anos.
Pois bem, se não fosse pela
campanha do disque 180 ou pela Lei Maria da Penha, este índice teria aumentado.
Apesar de muitas mulheres ainda manterem silêncio com receio de perder os
filhos ou até mesmo a casa onde moram. Parece banal, mas não é. Muitas mulheres
dependem de seus maridos para ter o que comer. Entretanto, isto não justifica a
violência doméstica, nem nunca justificará.
Não podemos correr o risco
de ligar a TV ou o rádio e ouvir a notícia de que mais uma mulher, uma criança
ou um adolescente foi assassinado e acharmos que é normal. Afinal, normal é ter
a certeza de que estamos seguros, em qualquer canto desta cidade. Senão, iremos
passar sobre cadáveres espalhados pelo calçadão da Marquês de Paranaguá e
considerar o defunto apenas como uma pedra no caminho. A violência é anormal. E
o que é anormal é aberrante, monstruoso, desigual e injusto. Afinal, quem
transgride as regras e os preceitos de dignidade pré-estabelecidas em uma
sociedade, não pode ser normal.
Pedro Doyle
Articulista
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