O MORTO ESCOLHE ONDE QUER SER ENTERRADO?
Cemitério da Vitória, no Alto do Teresópolis
Hoje é Dia de Finados. Os
cemitérios da cidade estarão iluminados de velas acesas em homenagem aos
defuntos. O Dia de Finados é uma celebração da vida eterna das pessoas que se
foram. É, por assim dizer, o Dia do Amor, porque amar “é sentir que o outro não
morrerá nunca.” É comemorado desde o século I, quando os cristãos começaram a
visitar os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram
sem martírio. Só a partir do século IV é que a Igreja começou a celebrar missa
em memória dos mortos. Porém, foi a partir do século V que, de fato, dedicaram
um dia por ano para rezar por todos os mortos, pelos quais, “ninguém rezava e
dos quais ninguém se lembrava.”
Em Ilhéus, não poderia ser
diferente. Aliás, poderia ser sim, se não fosse pelos problemas sérios que os
três cemitérios urbanos vêm passando. A começar pelo Cemitério do Basílio, “um
dos mais populosos da cidade” – frase célebre de um vereador que completou
dizendo que “para a pessoa que vai morrer pela primeira vez, a situação é mais
difícil”. Seria cômico, se a questão não fosse realmente complicada. Claro que,
fisicamente, só morremos uma única vez, a não ser que estejamos falando do
espírito como afirmou Jesus Cristo nas escrituras sagradas. O fato é que até
bem pouco tempo se via vira-latas com ossos humanos nos quatro cantos do
cemitério do Basílio. Um verdadeiro desrespeito à vida (ou seria a morte?).
O que dizer então do Cemitério do
Pontal? Apertado entre o bairro Nelson Costa e o bairro Hernani Sá, numa
estreita faixa de terra, o Cemitério do Pontal está espremido. Por pouco não se
faz um rodízio de defuntos. Se é que já não acontece. De tanto enterrar gente,
é bem capaz da Avenida Lótus virar um corredor e a primeira rua de acesso ao
Hernani Sá desaparecer. Acabou o espaço. E, se cavar mais, vão encontrar um
lençol freático e os mortos vão aparecer boiando na Praia dos Milionários.
Por fim, temos o histórico
Cemitério da Vitória, onde se encontram os mausoléus dos mais célebres personagens
da história ilheense e as raízes das famílias que um dia conquistaram as Terras
do Sem Fim. Quem tem um palmo de terra no Cemitério da Vitória, tem um tesouro!
E quem tem um tesouro, pelo menos lá, não tem nada, porque nada não pode levar.
Sem espaço, sem cova, sem
mausoléu, o pobre é forçado a enterrar seus mortos no Couto ou no Salobrinho,
um verdadeiro êxodo urbano de defuntos. Se viver já é uma luta, morrer é duas
vezes mais. Principalmente quando o indivíduo não sabe para onde estar indo.
Esperamos que neste dia, as autoridades que assumirão o Palácio Paranaguá em
2012, lembrem deste dia não como uma celebração da morte, mas, da vida. Estamos
precisando urgente de um novo cemitério. Afinal, qualquer pessoa está sujeita a
passar pela mesma situação quando se morre. Ou o morto pode escolher onde quer
ser enterrado?
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