“Pedro e Équio, Équio e Pedro. Quando se foram, perguntaram quem
assumiria agora a função de perpetuar o legado cênico.”
P.C.
OUTRAS
VELAS PRECISAM SER ACESAS
“O Curumim
Invisível”, dirigida por Pedro Mattos (terceiro em pé da D. para E.
Na foto ainda
estão: Rita Santana, Orlone, Fábio Lago, Esther Santana, Carmen e Pawlo Cidade.
Agachados: Lelê, Paulo Rosário, Pona, Ivan Souto e Xandoca/Foto: Joãozinho Alaketo
O saudoso Pedro Mattos, ator e
diretor de teatro, foi um incansável batalhador das Políticas Públicas de
Cultura. Acredito que, se não fosse por sua insistência, performances e
vigília, o Teatro Municipal de Ilhéus e o Circo Folias de Gabriela (e não “da
Gabriela” como ele sempre corrigia) não teriam saído. Evidente que não tiro
aqui a vontade política do governante municipal da época. É importante
salientar que foi o único a construir os referidos espaços.
Pedro Mattos foi gestor do Circo e
chegou a ser do Teatro. Passou por vários cargos na Fundação Cultural. Conhecia
de cabo a rabo toda a sua estrutura, criava projetos, montava peças e brigava
nas reuniões com os artistas. Seja no seu grupo, o CTT – Companhia Talentos da
Terra, do qual tive a honra de participar e subir ao palco do Municipal pela
primeira vez com a personagem Curupira; seja na SACI – Sociedade de Arte e
Cultura de Ilhéus. Pedro tinha seus desejos, suas ideias, suas convicções.
Porém, ficou nisso. Pedro ficou doente. Pedro morreu.
Depois, foi a vez do emblemático
Équio Reis. Um figurinista de mão cheia. Um cenógrafo de tirar o chapéu. É fato
que ele e Pedro chegaram a trabalhar juntos, na Fundação Cultural. Entretanto,
cada um tinha suas idiossincrasias. E isto foi louvável até certo ponto.
Presenciei arranca rabos entre ambos. No entanto, no final, tudo acaba em pizza
e muita gargalhada. Équio, o homem do teatro, fundador do Teatro Vila Velha, de
Salvador, ator, diretor, cenógrafo, figurinista, dramaturgo e também criador do
Teatro Popular de Ilhéus foi gerente do Teatro Municipal e assumiu alguns
cargos também na Fundação Cultural de Ilhéus.
Pedro e Équio, Équio e Pedro.
Quando se foram, perguntaram quem assumiria agora a função de perpetuar o
legado cênico. Quem continuaria despertando o interesse aos jovens pela arte de
interpretar. Quem não deixaria morrer os ideais de uma política pública que não
fosse excludente. Em meio as indagações, escrevendo, produzindo e dirigindo
seus espetáculos, surgiu um jovem com vontade de acertar. E ele começou pelo
Teatro Infantil com a humorada “A Piranha e o Baiacu”. É bem verdade que Pedro
e Équio se foram muito depois dele começar a produzir e descobrir talentos nas
escolas públicas. Isto causou indiferença, mas não o impediu de continuar. Este
jovem autodidata percebeu que qualificação, compromisso e responsabilidade não
podiam ficar de fora de sua profissionalização. E foi o que fez. Se
profissionalizou, germinou e até hoje planta sementes. Talvez esta seja sua
missão: plantar sementes.
Paralelo a tudo isso também
surgiram outros jovens como Lamartine Ferreira, Justino Vianna, Padre Joelson
Dias, Bruno Susmaga e Hermilo Menezes; depois, Romualdo Lisboa com a ideia
propagada por Équio Reis que o negócio era teatro de grupo.
Hoje, estou como conselheiro
estadual da Câmara Setorial de Teatro. E quero continuar contribuindo com a
categoria como sempre fiz. Talvez não mais aqui. Já dei minha contribuição.
Outras praças me esperam. Outros espaços precisam de novas vigílias. Outras
velas precisam ser acesas.
Pawlo Cidade
Diretor Artístico
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