DESENTERRARAM A CABEÇA DE JEGUE
A expressão “cabeça de jegue” é
muito comum quando se diz que uma coisa não vai para frente. Ou ainda é o mesmo
que dizer que “debaixo deste angu tem caroço” ou que “neste mato tem coelho.”
Mas, preferimos ficar ainda com o sentido de que quando se tem uma “cabeça de
jegue”, se tem um atraso que não quer virar desenvolvimento. Muitos ainda
insistem em afirmar que a tal “cabeça de jegue” foi enterrada na feirinha do
Guanabara, por uma tal Maria do Fato que virou inspiração para uma obra
teatral, escrita pelo saudoso Équio Reis e apresentada pelo Teatro Popular de
Ilhéus por quase seis anos. Pra quem não sabe, ou esqueceu, a feirinha da
Guanabara é aquela aglomeração de feirantes que se estabeleceram ao longo dos
anos, bem pertinho da Praça Cairú.
Alguns prefeitos já tentaram
removê-la, mas adquiram uma tremenda dor-de-cabeça. Os mais incautos não
acreditam nisso. Porém, os que afirmam de pés juntos – e até debaixo d´água –
confessam que a maldita “cabeça de jegue” está submersa na praia da Avenida.
Ela foi jogada nas proximidades da Pedra de Ilhéus, dentro de um baú trancado a
sete chaves, por um coronel inimigo de Misael Tavares, “o maior fúcaro da
região cacaueira,” desejando falência e morte ao rico e afazendado coronel.
Seria isso a causa do Shopping que seria construído naquela artéria não ter
saído e o projeto do paisagista Burle Marx ter sido totalmente
descaracterizado? Que diga o Luanda Bahia que ali esteve instalado e se foi.
Entretanto, novos ventos estão
agora percorrendo os quatro cantos da cidade. E eles vêm trazendo a notícia de
que o desenvolvimento está batendo às portas. Prova disso são as notícias que
os jornais da região trazem sobre as novas empresas que pretendem se instalar
em Ilhéus e as que, dia após dia, estão sendo inauguradas. Isto pode ser uma
prova inconteste de que desenterraram a “cabeça de jegue.”
O fato é que com o desenvolvimento
o Plano Diretor precisa sair do papel. As vias públicas, sobretudo as
principais avenidas e ruas, têm que ser descongestionadas. Serviços de
tapa-buracos, reformas, asfaltamento, implantação de redutores de velocidade e
outras ações desta natureza não podem mais ser feitas em plena luz do dia.
Estamos caminhando para se tornar uma metrópole. Uma cidade em franco
desenvolvimento, apontada pela revista Veja há alguns anos como um dos melhores
destinos para se morar é referência nacional. Ou vocês acham que o crescimento
imobiliário no município se deu por acaso?
Necessitamos urgente de ciclovias,
de postos de saúde que funcionem, de mais opções de lazer, de políticas
públicas que permitam condições melhores para o cidadão. De políticos que
pensem e ajam como Eusínio Lavigne, Mário Pessoa e que tenham o espírito do
intrépido Misael Tavares, designado pelo doutor José Léo Lavigne como um homem
que tinha muito “mais espírito público do que muito doutor de anel no dedo.”
O primeiro grande desafio do novo
(ou seria nova?) condutor(a) do Palácio Paranaguá é administrar o verão que se
aproxima. Milhares de turistas – os que já vieram e estão voltando e os novos
que virão – desembarcarão em navios, aviões e automóveis para conhecer as
madeixas de Gabriela, as histórias secretas do Bataclan, os aposentos do nobre
escritor Jorge Amado, os mistérios da Lagoa Encantada, a secular igrejinha do
Engenho de Santana, a monumental Catedral de São Sebastião e, claro, os
quitutes de Dona Flor e a moqueca apimentada do bar e restaurante Vesúvio.
Contudo, o desafio não será
somente do gestor(a). Mas, de cada um de nós, cidadãos ilheenses, que
espantaram o fantasma da malfadada “cabeça de jegue” e acreditam no futuro
promissor da Princesinha do Sul.
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