sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

VIVA A ARTE EM VOCÊ E NÃO VOCÊ NA ARTE


Tentar, experimentar. Estes são os princípios do ensaio. Com ele e por meio dele vão surgindo as cenas e o espetáculo. Entre possibilidades e experimentações, o ator vai descobrindo que pode avançar, que pode sempre ir um pouco mais. O teatro, segundo Peter Brook, talvez seja uma das artes mais difíceis porque requer três conexões que devem coexistir em perfeita harmonia: os vínculos do ator com sua vida interior, com seus colegas e com o público. É, através do ensaio e consequentemente nas apresentações do espetáculo, que o ator vai fortalecendo estes vínculos e permitindo uma atuação mais orgânica, mais visceral.

Nesse sentido – e Renato Ferracini foi feliz ao afirmar isso no seu trabalho sobre o grupo Lume de Campinas – o ator em Estado Cênico é um ser múltiplo por natureza e toda e qualquer reflexão do trabalho de ator, mesmo que se possa definir de maneira clara o recorte de discussão, jamais poderá ignorar completamente as relações multidimensionais e multifacetadas de seu trabalho.

O gaúcho Daniel Freitas acredita que para um ator dominar seu corpo e a técnica de atuação seja ela qual for significa saber o que ocorre com seu corpo, a teoria que envolve ele e saber se expressar verbalmente sobre seu estudo teatral pessoal.
É comum os estudiosos de teatro identificarem outra dimensão – que não a orgânica. Trata-se da “técnica”. Ou seja, a faculdade operativa do ator em articular sua arte de maneira concreta. Uma vez dominada essa habilidade o ator a partir de sua criação estaria pronto para animar esta “técnica” dando-lhe “vida” e organicidade. Talvez criando aí um dualismo no trabalho do ator entre Forma e Vida.

A busca de uma criação orgânica, em que o ator esteja inteiro e integrado na ação cênica e a dimensão estética e ética, trouxe para o teatro a recuperação do seu verdadeiro sentido: "viva a arte em você e não você na arte". Este conceito tornado prática nas experiências do teatro foi proposto pela primeira vez pelo mestre Stanislavski. Ela vem trazer uma nova dimensão a esta arte: a união do homem e do artista, a dedicação, a generosidade, a disciplina, a sensibilidade, a formação constante do ser inteiro do ator, o jogo dialético da interioridade e da exterioridade.
Num primeiro momento, Stanislavski busca abrir o caminho das potencialidades criativas de seus atores. Potencialidades profundamente ocultas, que serão descobertas durante o processo de trabalho, através de atividades que preparem o ator para o trabalho criativo. Ele vai buscar no inconsciente a fonte para esse processo. "Não me falem de sentimentos, não podemos fixar sentimentos, só podemos fixar as ações físicas".