sábado, 14 de dezembro de 2013

EDITORIAL

DERAM UMA PEDRA AO MENINO
Pawlo Cidade*

Foto: Ariel Figueroa, registrando a subida de "Vilela"

O poeta grapiúna Firmino Rocha escreveu, há alguns anos atrás, um poema chamado “Deram um fuzil ao menino.” Este poema se tornou imortal porque retratava o momento de uma época, de perda da infância, de um genocídio. O mais engraçado - e irônico - de tudo isso é que ele não falava das favelas, dos morros, onde o tráfico continua, nos dias de hoje, dando fuzis sem precedentes aos milhares de meninos que servem de olheiros, aviãozinhos e outras denominações mais.
É bem provável, conhecendo pouco da natureza do poeta, que hoje ele certamente poderia dizer que, ao invés do fuzil, estão dando “pedras” aos meninos, aos jovens, às crianças. Quando “Vilela”, alcunha do jovem morador de rua que caiu do poste na Rua Coronel Paiva, se estatelou no chão, só me veio uma constatação: ele queria ser livre. Mas não sabia como, não tinha forças, não conseguia controlar o vício. Quantas vezes, muitos de nós, passamos por ele dormindo na calçada lateral do Teatro Municipal, “apagado”, pelo uso excessivo da maldita pedra que aplacava sua fome, seu desejo de viver.
Para muitos, o vôo de “Vilela” foi um alívio. Menos um, flanelinha, menos um morador de rua, menos um usuário de crack. Menos um. “Vilela” vai ser esquecido. Outros “Vilelas” tomarão seu lugar e continuarão amedrontando motoristas e pedestres. Aliás, já tomaram seu lugar. E eles sempre respondem por apelidos que, a princípio parecem estranhos, mas que caem como nomes de batismo.
Afirmei, em outra escrita, a partir de uma frase de uma professora, que a droga será vencida pela violência. E ainda continuo aceitando isso. Porém, antes mesmo que esta afirmação torne-se uma verdade absoluta – e absurda! – entre nós, a droga, sobretudo o crack, ainda irá levar muitos “Vilelas” para o limbo.
“Vilela” não é mais um. “Vilela” é ser humano. Parafraseando Firmino Rocha, eu diria adeus luares de dezembro, adeus sinos de natal. Nunca mais a inocência, nunca mais a alegria – que certamente ele não tinha, mas nos chamava de “doutor.” Nunca mais a corrida no barro vermelho, o caranguejo no mangue, o abraço da mãe que se foi. Agora é o asfalto frio, a descarga elétrica, agora é o crack da morte, rufando nos campos negros dos becos, das ruas, sob os pés violentos ferindo os passantes benditos.
Onde estão as autoridades? A quem interessa a morte de “Vilela”, que recebeu o apelido do lugar de onde veio? No caderno da polícia, apenas números. O jovem ficou sozinho, agonizando, esperando a morte chegar. Adeus Praia da Avenida, adeus Calçadão Marquês de Paranaguá, adeus tudo que é de Deus. Deram uma pedra ao menino.


* Diretor Artístico na Comunidade Tia Marita, escritor e produtor cultural.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

EDITAIS SETORIAIS DAS ARTES E DE GRUPOS E COLETIVOS CULTURAIS ESTÃO COM INSCRIÇÕES ABERTAS

Iniciativas como esta podem ser financiadas pelo edital de Circo

Com foco no apoio a propostas das linguagens artísticas e a grupos e coletivos culturais, a Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), entidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA), lança oito editais setoriais com recursos do Fundo de Cultura da Bahia (FCBA): Artes Visuais, Audiovisual, Circo, Dança, Literatura, Música, Teatro, além de Grupos e Coletivos Culturais, que volta a ter um certame incluído entre os mecanismos de apoio do Governo da Bahia. Juntos, estes concursos somam um total de R$ 15,860 milhões e objetivam estimular a rede produtiva de cada setor, abrindo possibilidade para a realização de quaisquer tipos de projetos relacionados à criação, pesquisa, formação, produção, difusão, circulação, memória e demais ações nas áreas específicas. As inscrições ficam abertas até 21 de janeiro de 2014 e podem ser feitas através de sistema online ou pelos Correios. As minutas dos editais, bem como seus anexos, podem ser consultadas no site www.fundacaocultural.ba.gov.br.

Neste formato setorial, lançado pela primeira vez em maio de 2012 e agora aberto para projetos a serem realizados a partir de 25 de julho de 2014, os editais da FUNCEB financiados pelo FCBA têm amplas possibilidades de incentivo, alcançando a demanda a ser apresentada pelos próprios artistas e profissionais inscritos.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O SANTO É DE MÁRMORE, A TRAMA É DE BRONZE


Sem nenhuma pretensão na orelha do meu mais novo romance O Santo de Mármore eu afirmo que para aqueles que não souberam dos episódios que se desencadearam nas semanas que antecederam a greve estudantil do IME, em 1987, e os dias que se seguiram durante o movimento grevista, desejo uma boa leitura. Mas para os que vivenciaram, passo a passo, os fatos, deixem perto deste livro um lenço. Ele lhe será útil. E, está mesmo sendo útil para os que até o momento têm externado suas opiniões a respeito do livro.
O maestro Antonio Melo foi o primeiro a comentar após ler a obra “Acabo de ler o livro O Santo de Mármore de Pawlo Cidade. É sensacional! Comecei curioso para entender o enredo e quando percebi já estava na metade do livro. Muito bom Pawlo. Muito bom saber que temos escritores que dignificam nossa região com uma escrita tão direta, pontual. Muito bom saber que nossa história tem bons narradores. Essa conversa de dizer que não temos bons artistas, bons escritores, que não temos cultura, que o quintal dos outros é bem melhor, tudo isso é balela. Basta assistir o que a cidade produz. Basta ler o que nossos autores escrevem. Recomendo mesmo o Santo de Mármore. Parabéns Pawlo. Já estou esperando seu próximo livro!”
A professora Simone Dias disse que passou o fim de semana se emocionando com o livro. Meu amigo Deraldo Pitombo declarou que “Jorge Amado nos ensinou que NÓS ilheenses temos o DEVER de prestigiar os escritores da terra. E é muito mais prazeroso cumprir este dever quanto admiramos o escritor. Gostei muito de ter estado na sua noite de autógrafos Pawlo Cidade. Renovo meus parabéns e votos de sucesso. Ivan Souto, testemunha ocular e principal líder do movimento estudantil na época dos acontecimentos de O Santo de Mármore se disse encantado com o livro “Não consegui parar de ler! Terminei no sábado pela manhã. Só não consigo distinguir o que é ficção do que é realidade. Parabéns."
Para quem ainda não leu o livro, o romance conta a história de uma greve estudantil realizada no IME, em 1987, após a demissão de quatro dos melhores professores daquela instituição de ensino. Vale salientar que estudar no IME não era uma conquista fácil, porque faltavam vagas. A procura era grande. Na época de matrícula, era preciso ter um amigo no legislativo ou até mesmo na Prefeitura para garantir uma vaga na escola. Se o aluno não tivesse um Q.I elevado, não entrava no IME. E não era preciso teste de admissão, porque ele já tinha sido abolido muitos anos antes. Mas, literalmente, um Q.I. - “Quem Indica”. Quem indica para uma vaga.
O professor Carlos Galdino, um dos professores demitidos na ocasião também falou sobre o livro ‘Quero dizer a Pawlo Cidade, que a leitura do Santo de Mármore arrancou-me uma lágrima... e agradecer. A minha grande alegria e realização pessoal, é ouvir sempre de muitos ex- alunos, o que você diz em seu livro, cheio de muita história do IME.”

O livro está a venda na livraria Papirus ou pode ser adquirido pessoalmente comigo ao preço unitário de R$ 30,00.

Publicado originalmente na coluna Coxia, do Diário de Ilhéus, sábado, 07/12/2013.