COMO OS BRASILEIROS
CONSOMEM CULTURA
Pawlo Cidade*
Li uma pesquisa interessante que
traça o perfil dos brasileiros que consomem cultura. E é sobre este assunto que
tratarei minha conversa de hoje com vocês. Pois bem, a Uol Tab atesta neste
trabalho o que mais nos afasta ou o que mais nos aproxima da Cultura nos dias
de hoje. Então, como os brasileiros consomem Cultura? A Consultoria JLeiva entrevistou
em 12 capitais brasileiras, das mais diversas regiões do país, mais de dez mil
pessoas. “O resultado é uma das mais completas análises do país sobre o
comportamento cultural nos dias de hoje”. A pesquisa mostrou que apenas 1/3 da
população vai a museus, teatros e cinemas. O cinema (64%) é o local mais
frequentado. Até aí nenhuma novidade. Mas quem realmente dar um gás nesta
estatística são os jovens. Se depender da garotada o cinema nunca vai morrer. “Os
filmes de super-heróis – afirma a pesquisa - é uma boa explicação para isso”.
Das cinco bilheterias do Brasil, 3 eram da DC Comics e da Marvel. Mesmo com
tanta vontade ir ao cinema essa galera está cada vez mais assistindo filmes e
séries em casa, pelo serviço de streaming. O streaming “é uma tecnologia que
envia informações multimídia, através da transferência de dados, utilizando
redes de computadores, especialmente a Internet, e foi criada para todas as
conexões mais rápidas”. Streaming é inglês quer dizer transmissão.
Quando a pesquisa se refere a
música, há quase uma unanimidade na pesquisa: o ritmo sertanejo. Não importa o
sexo, a faixa etária, o gênero que liga todos os brasileiros é o sertanejo.
Pelo menos é o que diz a pesquisa. A única exceção são os jovens entre 12 e 15
anos. 55% deles disseram se identificar mais com o funk. A pesquisa também
mostrou que gênero, orientação sexual, estado civil, religião, cor,
escolaridade e renda tem peso gigantesco na forma em que experimenta cultura
nas grandes cidades. Em todas as principais categoriais as mulheres ficaram
atrás dos homens quando o assunto é acesso à cultura. Estranho isso, mas, foi o
que deu.
A vida doméstica também tem um
impacto negativo nos hábitos culturais. Casados consomem menos cultura que os
solteiros. E quando os filhos nascem o acesso das mulheres a cultura caem
drasticamente em comparação aos homens na mesma situação. Pela primeira vez, a
pesquisa também perguntou sobre a orientação sexual dos entrevistados e como
ela se relaciona com seus hábitos culturais. O público LGBT frequenta muito
mais os espaços culturais que os heteros.
E se a pessoa tiver ou não uma
orientação religiosa, isso afeta seu comportamento cultural? A pesquisa mostrou
que sim. O acesso à cultura é mais entre os espíritas e os da religião afro e
os que não tem religião. A pesquisa também tentou entender como a desigualdade
racial no país reflete nos nossos hábitos culturais. Era de se esperar que esse
abismo se repetisse no acesso à cultura. E repete. Os brancos vão mais a museus
e a teatros. Mas a porcentagem de negros que frequentam shows de música e dança
é muito maior.
Entre educação e renda, qual fator pesa mais na hora de ter acesso a
cultura? O brasileiro mais escolarizado mantém uma frequência maior do que
aqueles que ganham mais dinheiro. A
pesquisa mostrou que indivíduos da classe C, com ensino superior, vai mais a
cinema que os pertencentes nas classes A e B. Uma coisa é certa, não importa a
classe social, todas ainda dependem das atividades gratuitas para se divertir. 32%
de todos os entrevistados só vão as atividades culturais se elas forem de graça.
Tem muita gente que gosta de xepa mesmo. Por fim, 40% frequentam mais eventos
na faixa do que pagos. Não sei aqui se a pesquisa se refere a faixa de idade ou
a faixa de preço. O fato é que estes dados são importantes para se pensar em projetos
culturais ou como diz a pesquisa em “políticas públicas daqui para frente”.
* Escritor e ativista cultural, diretor artístico da
Comunidade Tia Marita e membro da Academia de Letras de Ilhéus.