sábado, 1 de setembro de 2012

EDITORIAL

DESENTERRARAM A CABEÇA DE JEGUE

A expressão “cabeça de jegue” é muito comum quando se diz que uma coisa não vai para frente. Ou ainda é o mesmo que dizer que “debaixo deste angu tem caroço” ou que “neste mato tem coelho.” Mas, preferimos ficar ainda com o sentido de que quando se tem uma “cabeça de jegue”, se tem um atraso que não quer virar desenvolvimento. Muitos ainda insistem em afirmar que a tal “cabeça de jegue” foi enterrada na feirinha do Guanabara, por uma tal Maria do Fato que virou inspiração para uma obra teatral, escrita pelo saudoso Équio Reis e apresentada pelo Teatro Popular de Ilhéus por quase seis anos. Pra quem não sabe, ou esqueceu, a feirinha da Guanabara é aquela aglomeração de feirantes que se estabeleceram ao longo dos anos, bem pertinho da Praça Cairú.

Alguns prefeitos já tentaram removê-la, mas adquiram uma tremenda dor-de-cabeça. Os mais incautos não acreditam nisso. Porém, os que afirmam de pés juntos – e até debaixo d´água – confessam que a maldita “cabeça de jegue” está submersa na praia da Avenida. Ela foi jogada nas proximidades da Pedra de Ilhéus, dentro de um baú trancado a sete chaves, por um coronel inimigo de Misael Tavares, “o maior fúcaro da região cacaueira,” desejando falência e morte ao rico e afazendado coronel. Seria isso a causa do Shopping que seria construído naquela artéria não ter saído e o projeto do paisagista Burle Marx ter sido totalmente descaracterizado? Que diga o Luanda Bahia que ali esteve instalado e se foi.

Entretanto, novos ventos estão agora percorrendo os quatro cantos da cidade. E eles vêm trazendo a notícia de que o desenvolvimento está batendo às portas. Prova disso são as notícias que os jornais da região trazem sobre as novas empresas que pretendem se instalar em Ilhéus e as que, dia após dia, estão sendo inauguradas. Isto pode ser uma prova inconteste de que desenterraram a “cabeça de jegue.”

O fato é que com o desenvolvimento o Plano Diretor precisa sair do papel. As vias públicas, sobretudo as principais avenidas e ruas, têm que ser descongestionadas. Serviços de tapa-buracos, reformas, asfaltamento, implantação de redutores de velocidade e outras ações desta natureza não podem mais ser feitas em plena luz do dia. Estamos caminhando para se tornar uma metrópole. Uma cidade em franco desenvolvimento, apontada pela revista Veja há alguns anos como um dos melhores destinos para se morar é referência nacional. Ou vocês acham que o crescimento imobiliário no município se deu por acaso?

Necessitamos urgente de ciclovias, de postos de saúde que funcionem, de mais opções de lazer, de políticas públicas que permitam condições melhores para o cidadão. De políticos que pensem e ajam como Eusínio Lavigne, Mário Pessoa e que tenham o espírito do intrépido Misael Tavares, designado pelo doutor José Léo Lavigne como um homem que tinha muito “mais espírito público do que muito doutor de anel no dedo.”

O primeiro grande desafio do novo (ou seria nova?) condutor(a) do Palácio Paranaguá é administrar o verão que se aproxima. Milhares de turistas – os que já vieram e estão voltando e os novos que virão – desembarcarão em navios, aviões e automóveis para conhecer as madeixas de Gabriela, as histórias secretas do Bataclan, os aposentos do nobre escritor Jorge Amado, os mistérios da Lagoa Encantada, a secular igrejinha do Engenho de Santana, a monumental Catedral de São Sebastião e, claro, os quitutes de Dona Flor e a moqueca apimentada do bar e restaurante Vesúvio.

Contudo, o desafio não será somente do gestor(a). Mas, de cada um de nós, cidadãos ilheenses, que espantaram o fantasma da malfadada “cabeça de jegue” e acreditam no futuro promissor da Princesinha do Sul.

Pedro Doyle/Articulista
Publicado no Diário de Ilhéus de 01/09/2012

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

HOJE E AMANHÃ TEM O RETRATO DE DORIAN GRAY COM ROBERTO CORDOVANI


O espetáculo O Retrato de Dorian Gray, da Companhia Internacional de Teatro de Repertório Arte Livre, hoje com sede na Espanha, será apresentado dias 30 e 31 de agosto (quinta e sexta-feira), às 21 horas, no Teatro Municipal de Ilhéus.

O Retrato de Dorian Gray teve uma primeira montagem pela companhia há cerca de 20 anos no Brasil, onde a cia. foi fundada, passando por uma repaginada e estreando novamente no início de 2012 na Galicia, Espanha, com apresentações também em Santiago de Compostela e Portugal. Para esta reestreia, o espetáculo ganhou tecnologia, com novos efeitos especiais, e novas coreografias.

Esta montagem já foi premiada na Europa. Na Galicia, foi eleita o Melhor cenário, de autoria do paisagista brasileiro Roberto Burle Marx; Melhor ator de Londres, Madrid, Santiago de Compostela e do Festival Internacional de Teatro de Edimburgo na Escócia para Roberto Cordovani. Os 35 trajes exclusivos, que ao longo de 1h40min de espetáculo são utilizados por 4 atores, foi elaborado por Conrado Segreto, um dos grandes mitos da moda brasileira.

Vigoroso e contra a moral burguesa da sua época, O Retrato de Dorian Gray é uma das obras primas de Oscar Wilde. Uma das mais célebres histórias da literatura inglesa. Seu êxito permanente se prende não só na originalidade da sua trama como também nas ideias estéticas e ao estilo brilhante do seu refinado autor. A obra se revela atual e rica de conteúdo, envolvendo a busca da perfeita realização sexual e a afirmação de uma arte que vale por si mesma. A espantosa história de um homem que se mantém jovem enquanto o seu retrato envelhece, mostrando sinais da sua degradação física e moral.

No elenco, além de Bruno Portela, Ramon Cabrer e Cristina Collazo, está Roberto Cordovani (que também assina a direção), ator, autor do livro “O Teatro Brasileiro na Galiza”, publicado pelo Departamento de Galego-Português, Francês e Linguística da Universidade da Coruña, co-proprietário do Teatro Arte Livre, em Vigo (Galiza), produtor teatral e diretor. Premiado com o espetáculo “Olhares de Perfil (o mito de Greta Garbo)” no Festival Internacional de Edimburgo (Escócia) e como melhor ator protagonista no Carrefour de L´Europe (França 1988), Charrington London Fringe Awards (Inglaterra 1988) e no Prêmio da Mostra Internacional do Festival de Outono de Madri (Espanha 1994). Com Eva Perón, o espetáculo, recebeu o Prêmio Compostela de Teatro de mesma categoria em 1995, na Espanha. Cordovani soma em sua carreira artística, um total de 35 produções em 11 países, 515 cidades, com aproximadamente 5.850 representações.

ASCOM/FUNDACI
O quê: Espetáculo de Dorian Gray
Quando: 30 e 31/08/12
Horário: 21 horas
Local: Teatro Municipal de Ilhéus
Ingressos: R$ 40,00 e R$ 20,00 (meia)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

HÁ 23 ANOS, OS ESTUDANTES DO IME E DO CEAMEV SE UNIRAM PARA LUTAR CONTRA O AUMENTO DE PASSAGEM

Imagem dos professores da época em outro movimento

Hoje é uma dia histórico para a classe estudantil ilheense. Só quem viveu pode recordar o que ocorreu no dia 28 de agosto de 1989. Na verdade, o dia de hoje foi o estopim que culminou numa série de prisões e repressão da polícia militar sobre o movimento que se sucedeu naquele dia.

Tudo começou por causa do aumento inesperado da passagem de ônibus. Os grêmios estudantis, do IME, comandado por Gustavo e do CEAMEV, sob a direção de Zé Mário, se reuniram logo após a última aula da manhã e resolveram protestar contra o aumento. Centenas de estudantes invadiram a pista da Avenida Canavieiras na hora do rush e impediram que carros e ônibus trafegam-se por aquela artéria. Foi, até então, um movimento pacífico, até a chegada da polícia militar que reprimiu com violência os estudantes. A turma correu para as calçadas e como num corredor polonês, continuaram protestando com palavras de ordem contra o aumento abusivo da passagem.

Não satisfeitos, voltaram a invadir a pista. Os líderes convocaram todos a descer na direção da praça Cairú. Criou-se uma verdadeira maratona na direção da principal artéria da cidade. Todos, numa só voz cantavam o Hino Nacional. Quando chegaram na praça Cairú, alguns afoitos resolveram apedrejar os ônibus da empresa Santa Cruz (na época). A polícia apenas observava. Até que alguém, no meio da multidão, teve a ideia de partir para a garagem da empresa que ficava na Avenida Itabuna para destruir tudo. A turma então correu pela ladeira em direção ao Viaduto Catalão. A polícia cercou os estudantes, fechando a entrada e a saída da rua, antes mesmo de todos chegarem ao Viaduto e partiu pra cima, batendo em todo mundo.

Sem saída, os estudantes foram se jogando no morro que dava acesso ao Carneiro da Rocha. Dezenas de estudantes cairam nos quintais abaixo. Muitos foram presos. Gustavo conseguiu escapar. Zé Mário não teve tanta sorte. Foi pego pela polícia.

Este foi apenas um fato, de muitos que se sucederam nos dois primeiros anos de fundação do Grêmio Semeando, do IME, antes criado por Ivan, Adriano, Marcone e tantos outros. Eu conto tudo isso num livro (inédito) chamado "Dias de Greve" e este fato também foi narrado no livro "Contra Correnteza" do pai de Gustavo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

IMPROVISO OXENTE DE TERÇA DISCUTE POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA


           
O Improviso, Oxente! desta terça-feira (28) terá como assunto das discussões “Sistema Municipal de Cultura e seus instrumentos”. Os debates serão conduzidos a partir as colocações do assessor da Fundação Cultural de Ilhéus, Pawlo Cidade, que apresentará o Plano Municipal de Cultura e do diretor do Teatro Popular de Ilhéus (TPI), Romualdo Lisboa. O encontro é aberto ao público e acontece a partir das 19 horas, na Casa dos Artistas.      
            
        Esta edição do Improviso, Oxente! tem como tema geral: “A cidade é movida pela cultura”. Em parceria com o Instituto Nossa Ilhéus, o Teatro Popular de Ilhéus (TPI) convida toda sociedade para discutir projetos para diversos setores do município. Na semana passada, o assunto foi: “Ações locais para saúde”, tendo como especialista convidada a médica e reitora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), Adélia Melo. 

Antes da fala da convidada, a diretora administrativa do Instituto Nossa Ilhéus, Morgana Krieger, apresentou os indicadores da saúde da cidade. Em 54% dos índices de saúde pesquisados pela instituição, Ilhéus ocupa a pior colocação. Entre os 28 municípios do mesmo porte levantados, Ilhéus ocupa a última posição em mortalidade infantil, sendo 24 a cada mil nascimentos. O ideal seria de até 10 mortes em mil.

Adélia Melo iniciou sua fala parabenizando a iniciativa do espaço de discussão. Ela explicou que a saúde é um direito constitucional do cidadão e que poucos países dispõem de um sistema único de saúde. “O SUS, com todos os seus percalços, é um grande ganho para a sociedade. O indivíduo pode ascender no sistema, de acordo com a complexidade do seu problema”, declarou. Ela ainda ressaltou que a grande mídia divulga apenas as mazelas do SUS. “Se funcionasse bem, as clínicas particulares fechariam. E isso não é o interesse dos poderosos", disse.

A médica ainda lembrou que, para que a sociedade tenha uma melhor qualidade de vida, é essencial associar saúde e educação. Em seu ponto de vista, é preciso que sejam disponibilizados cursos técnicos, de graduação e pós-graduação para oferecer capacitação para profissionais e população em geral.

Esta edição do Improviso, Oxente! termina em setembro. As propostas abordadas serão incluídas em um livro publicado pela Mondrongo, editora do TPI, e será entregue ao prefeito eleito como sugestões para seu projeto de governo.