O "dila", apelido carinhoso de um dos mais tradicionais blocos afros de Ilhéus: Dilazenze.
CARNAVAL DE ILHÉUS TERÁ NOVO MODELO DE NEGÓCIO
"Planejamento começa na pós-produção. Acredito que quando a gente finaliza uma etapa, desejamos compreender o que deu certo e o que deu errado, e a partir daí começamos a planejar para a edição seguinte."
Se a manchete
deste artigo não fosse uma plágio, seria um factoide. Diz-se de plágio o ato de
copiar ideias, plagiar a ideia de outro, copiar no anonimato ou em público como
o faço agora reproduzindo o título e substituindo apenas o nome da cidade. Já que
o verdadeiro título diz: “Carnaval de Salvador terá novo modelo de negócio”,
publicado no jornal A Tarde, em 22/02/15, no caderno Economia e Negócios, e
escrito pela jornalista Joyce de Sousa. Mas a nobre jornalista há de me perdoar
e não me mandar para o cumprimento de quatro anos de cadeia, pena que determina
a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, a Lei de Direitos Autorais, pelo
plágio.
No entanto, a
questão aqui não é o plágio. Nem tampouco o factoide – termo divulgado com
sensacionalismo pela imprensa que pode ser verdadeiro ou não. Uma espécie de
propaganda política mal intencionada para esconder um outro problema. Destaco
aqui um outro assunto que estava implícito no editorial do Jornal Bahia Online,
escrito pelo jornalista Maurício Maron: “Carnaval de Ilhéus - Uma boa ideia ou
uma má intenção?”
O presente
artigo não é uma crítica pela crítica. O tema que abordarei já foi protagonista
várias vezes, em outros artigos, nos meus blogs e nas palestras que sou
convidado a dar sobre Gestão e Projetos Culturais. Venho batendo na mesma tecla
sempre e não me canso de falar, de repetir. Afinal, se não for pelo bom senso, vai
por osmose. Eis que ao ler a matéria de Maurício e de outros blogueiros, que
depois usaram seu editorial com referência, e no domingo, lendo o texto de
Joyce de Sousa, encontro depoimentos do presidente da Empresa de Turismo de
Salvador, Isaac Edington e do economista Edísio Freire que tocam no calcanhar
de Aquiles de toda administração pública: Planejamento. Antes, vou abrir uma
pausa para outra questão.
Ilhéus, desde
que me conheço como escritor, produtor e gestor cultural tenho enfrentado
dificuldades com as idiossincrasias das pessoas que rodeiam o poder público e a
iniciativa privada. Apesar dos vários significados da palavra idiossincrasia –
nada a ver com idiota – eu prefiro adotar aquela em que a conduta de
determinados indivíduos são bastante engraçados. Isto porque temos uma cultura
imediatista. Não sei se esse problema é só de Ilhéus e se percorre os
Municípios brasileiros, o caso é que Ilhéus ou faz as coisas de forma rápida e
atropelada, porque assim é que deve ser, ou espera os eventos chegarem bem
perto pra se tomar uma atitude.
Todavia, entre
a cultura imediatista (que foi tema até de um artigo meu publicado no livro “Pensando
a Gestão Cultural”, editado pelo Ministério da Cultura, em 2014) e a falta de
planejamento, eu prefiro optar pelo Planejamento. Quando eu comento com amigos,
parceiros e colaboradores que vou trabalhar no projeto “X” em 2017, ouço a
expressão: “Tão longe!” e eu retruco na paciência de Jó: “Está não. 2017 é logo
ali.” E vou apontando os objetivos, as metas e a estratégia que vou utilizar
para chegar aonde quero chegar.
Portanto, quando
Isaac Edington diz que o produto carnaval para ser melhor vendido ele precisa
ser planejado com antecedência, está certíssimo. “Novos circuitos e espaços,
valorização de manifestações autênticas, além da associação das grandes
atrações a marcas exclusivas, estão entre os novos caminhos apontados.” Outra questão,
inúmeras vezes trazidas à tona nas assembleias do Conselho Municipal de Cultura
e nas Conferências Municipais e apontadas nas 43 metas do Plano Municipal de
Cultura é a valorização da produção cultural local e “de real potencial.” Músicos,
grupos de dança e teatro, de capoeira, cordelistas, artistas plásticos, índios,
blocos afros e de todos os “artistas comprometidos com a qualidade cultural local.”
- A frase, atribuída ao economista Edísio Freire, que também aparece na
reportagem de Joyce, parece ter captado o modus operandi da gestão atual do
Conselho Municipal de Cultura.
E abro aqui
mais um parêntese para dar destaque ao movimento afrocultural de Ilhéus,
sobretudo os blocos afros. Vale salientar que Ilhéus, depois de Salvador, tem o
segundo maior centro afro da Bahia. É preciso se estruturar, se organizar, sair
do paternalismo municipal e partir para a profissionalização. Os blocos afros
são um potencial real. Organizados e estruturados poderiam atrair investimentos
e ser a maior atração do carnaval ilheense. Acontece que o Dilazenze, o Mini
Congo ou os Danados do Reggae, sozinhos, não conseguem alcançar este objetivo. Daí
a necessidade de uma política pública de fortalecimento do Conselho das
Entidades Afroculturais de Ilhéus – o CEACI e de um Plano de Trabalho que tenha
o carnaval cultural como resultado de um processo e não um produto final. O Turismo
Cultural é uma alternativa? É! Mas não podemos fazer cultura para turista ver.
O que o visitante precisa ver é o resultado de um trabalho que começou em março,
por exemplo, e terminou em fevereiro. Que este modus operandi não sirva de
exemplo somente para o movimento afro.
Planejamento começa
na pós-produção. Acredito que quando a gente finaliza uma etapa, desejamos
compreender o que deu certo e o que deu errado, e a partir daí começamos a
planejar para a edição seguinte. O carnaval, o São João, o Festival de Artes e
Negócios da Semana Santa ou festas de largo, simpósios, conferências são bons
exemplos disso. Admiro a crítica construtiva que aponta as falhas, indica
caminhos e propõe a discussão. Sou avesso aos comentários chulos, desprovidos
de fundamentação e carregados de conteúdo unilateral. O planejamento parte,
também, das experiências pessoais e todos devem ser ouvidos.
Estamos aqui
para somar. Assim como eu, queremos ver Ilhéus reinventada, afastando a crise,
apontando novas formas de captação de recursos e eliminando todas as
possibilidades de insucesso. Embora, a única certeza que temos no planejamento
é a de que “alguma coisa vai dar errado.” Nós planejamos não para certificar “que
alguma coisa vai dar errada,” mas para evitar que a “alguma coisa errada
aconteça.” Desta forma, muito provavelmente, veremos um carnaval mais participativo,
uma festival de negócios com melhores resultados, um São João com a presença de
manifestações tradicionais, um secretariado com recursos disponíveis para
investir e um prefeito satisfeito, planejando Ilhéus para os seus quinhentos
anos.
[i] Pawlo Cidade, escritor, produtor cultural, gestor cultural e membro da Academia de Letras de Ilhéus e do Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Autor do livro “Como Transformar a Cultura em um Bom Negócio,” pela editora A5.