quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ILHÉUS SEDIA SEMINÁRIO DE CRIAÇÃO EM DANÇA


O premiado bailarino Edu O. e o coreógrafo Neemias Santana participam de mesas e oficinas da segunda etapa do evento gratuito, em Ilhéus, nos dias 28 e 29.11

O Território do Sul do estado receberá a segunda edição do II Seminário de Criação em Dança, realizado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), com objetivo de dar continuidade às ações ligadas à criação em dança e estabelecer mecanismos de diálogo com agentes atuantes no setor. Esta é a segunda fase do seminário, que já aconteceu em Juazeiro nos dias 07 e 08.11 e, com a etapa Sul, segue para a cidade de Ilhéus, nos dias 28 e 29.11. O evento na Tenda Teatro Popular de Ilhéus é gratuito.

Neemias Santana e Edu O. são atrações dos encontros em Ilhéus, encabeçando mesas de debates e oficinas, que seguem o tema Processos criativos em dança. Os artistas convidados pela coordenação de Dança da FUNCEB falarão sobre seus processos criativos e cada um fará uma oficina de criação, com foco em estratégias de criação neste campo artístico.

CENSO DAS CULTURAS NEGRAS SERÁ REALIZADO EM ILHÉUS

Grupo Dilazenze/Ilhéus - Foto: Arquivo
No dia 30 de novembro e 1 e 2 de dezembro, uma equipe da Fundação Palmares estará em Ilhéus para realizar o CENSO DAS CULTURAS NEGRAS. O projeto é resultado de uma cooperação entre a Fundação Cultural Palmares (FCP – MinC) e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A implantação da plataforma responde à Meta Nº 3 do Plano Nacional de Cultura, quanto ao mapeamento das expressões culturais no país. A proposta é que a ferramenta contribua com o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC) na implementação e acompanhamento das metas do Plano.
Construir uma plataforma georreferenciada com informações sobre as manifestações culturais negras brasileiras. Esse é o objetivo do Sistema Palmares de Informação, que foi lançado no início do semestre em Cachoeira/BA.

Maculelê, bumba-meu-boi, samba de roda e outras expressões da cultura afro-brasileira terão seus aspectos apresentados e popularizados por meio de uma ferramenta oficial na internet.

A plataforma - O Sistema utiliza a tecnologia do Google Earth. Ao acessá-lo, o internauta poderá realizar a busca por localidade ou por manifestação. Além de arquivos imagéticos, sonoros e audiovisuais de cada expressão cultural ele poderá obter dados como o calendário de festas, histórico, perfil dos participantes e indumentárias de cada uma delas. Outras possibilidades serão informações técnicas sobre a estruturação dos cortejos e das bandas musicais, por exemplo.

O  Sistema Palmares de Informação será implementado em diferentes etapas. Na primeira estão a construção da plataforma digital, a realização do censo cultural das manifestações afro-brasileiras nos estados da Bahia, Pernambuco e Maranhão e a produção do livro-arte com as manifestações dos 170 municípios recenseados. Para a efetivação do projeto, a UFRB atuará em  parcerias com as Universidades Federal do Maranhão (UFMA) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

SERVIÇO

O QUÊ? Censo das Culturas Negras
QUANDO? 30 de novembro, 1, 2 de dezembro de 2015
ONDE? Ilhéus

INFORMAÇÕES? 
Sara Oliveira (71) 991881012/ (75) 998398191 ou na 
Secretaria Municipal de Cultura de Ilhéus (73) 3231.7531

CENTRO DE CULTURA DE ITABUNA CELEBRA CENTENÁRIO DE ADONIAS FILHO



No dia 27 de novembro de 2015, o jornalista, escritor e crítico literário Adonias Filho - que faleceu em 1990 - completaria 100 anos. Para celebrar a data, o Centro de Cultura Adonias Filho, espaço cultural administrado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) em Itabuna, preparou uma programação especial nos próximos dias 26 e 27, com espetáculo de dança, apresentação musical e um panorama sobre o centenário do escritor.

No dia 26, às 19h, a programação será fechada para convidados e contará com apresentação da Banda Sinfônica de Itabuna. Logo mais, o secretario de Cultura do Estado da Bahia, Jorge Portugal, abrirá as comemorações abordando a importância do escritor para o território de identidade do Litoral Sul e, sobretudo, para a literatura nacional. Na sequência, Silmara Oliveira, coordenadora do Memorial Adonias Filho, apresentará um traçado histórico sobre os cem anos do escritor. Para encerrar a noite, o Balé do Teatro Castro Alves (BTCA) fará a apresentação de seu espetáculo “...ou isso”, uma montagem inspirada na obra do poeta mato-grossense Manoel de Barros (1916), considerado um dos principais poetas contemporâneos brasileiros.

Na sexta-feira, às 19h30, o BTCA faz nova apresentação do espetáculo “...ou isso”, desta vez, aberta ao público. O ingresso será trocado por 1 kg de alimento não perecível, que será destinado para o Abrigo São Francisco e o Albergue Bezerra de Menezes, em Itabuna.

Sobre o escritor - Nascido em 1915, na cidade de Itajuípe, Adonias Aguiar Filho foi jornalista, crítico literário, ensaísta e romancista. Foi eleito vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, membro do Conselho Federal de Cultura, presidente da Associação Brasileira de Imprensa e presidente do Conselho Federal de Cultura. Suas obras apresentavam fortes características da região cacaueira, das quais se pode destacar: Corpo Vivo, Luanda Beira Bahia, O Largo da Palma e As Velhas. Suas obras foram traduzidas para o inglês, o alemão, o espanhol, o francês e o eslovaco. Foi eleito para a cadeira nº 21 da Academia Brasileira de Letras. Em 2 de agosto de 1990, faleceu sua fazenda Aliança, em Inema (sul da Bahia).

Espaços Culturais da SecultBA - A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia mantém 17 espaços culturais geridos pela Diretoria de Espaços Culturais e localizados em diversos Territórios de Identidade. Destes, cinco encontram-se em Salvador - Cine Teatro Solar Boa Vista, Espaço Xisto Bahia, Casa da Música de Itapuã, Centro de Cultura de Plataforma e Espaço Cultural Alagados - e 12 nos municípios de Alagoinhas, Feira de Santana, Guanambi, Itabuna, Jequié, Juazeiro, Lauro de Freitas, Mutuípe, Porto Seguro, Santo Amaro, Valença e Vitória da Conquista. 

Centenário de Adonias Filho
Quando: 26 e 27 de novembro de 2015, às 19h.
Onde: Centro de Cultura Adonias Filho (Praça José Almeida Alcântara, s/n – Centro – Jardim do Ó – Itabuna/ BA)
Quanto: 26/11: Restrito a convidados | 27/11: 1 kg de alimento não-perecível
Mais informações:
Telefone: 73 3211.6429 / 71 3103-3441

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

MinC PARTICIPA DE ENCONTRO DAS CULTURAS POPULARES E TRADICIONAIS


Terra natal de Virgulino Ferreira, o famoso cangaceiro Lampião, a cidade de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco, será sede, até a próxima sexta-feira (27), do 9º Encontro das Culturas Populares e Tradicionais. O encontro é realizado pela prefeitura de Serra Talhada, com apoio da Secretaria de Cultura de Pernambuco, do Ministério da Cultura (MinC) e da Fundação Nacional de Artes (Funarte). 

Durante o evento, o MinC promoverá diversas atividades, como o encontro setorial do Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC) e o seminário Cultura e Pensamento. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, participará do evento na sexta-feira (27), em uma roda de conversa com fazedores de cultura locais, também com a presença de outros secretários do MinC.

Com objetivo de dar visibilidade e fortalecer a cultura popular brasileira, o evento contará com apresentações das mais diversas manifestações populares, além de cortejos, shows, mostras de cinema, fóruns, oficinas e seminários voltados a estimular a produção cultural. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural promovem o Encontro dos Pontões de Bens Registrados.

No âmbito do CNPC, será realizada a eleição dos Colegiados Setoriais de Cultura Popular, Afro-brasileira, Patrimônio Imaterial e Artesanato. Cada Colegiado é composto por 15 titulares e 15 suplentes e indicará um representante para participar do Pleno do CNPC.
Entre os temas a serem debatidos no Encontro estão o exercício dos direitos culturais, a atuação em rede, o diálogo e a parceria entre a sociedade civil, gestores, instâncias de participação social e sociedade em geral no campo das culturas populares e tradicionais para a promoção de um novo ciclo de políticas e ações de valorização e promoção das expressões da diversidade cultural. 

Participarão da Abertura do Fórum Nacional das Culturas Populares e Povos Tradicionais, no dia 24, a Fundação Cultural Palmares, o Iphan, a Fundação Casa de Rui Barbosa e as secretarias da Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC), de Políticas Culturais (SPC) e de Articulação Institucional (SAI).

Cultura e Pensamento

O Cultura e Pensamento é um programa do MinC que pretende criar um ambiente favorável à interlocução entre diversas visões do segmento, abrindo espaço para grupos, movimentos, redes, ativistas intelectuais, artistas e mestres, entre outros. O programa tem como intenção aproximar territórios, correntes de pensamento e movimentos da sociedade civil. O Cultura e Pensamento é realizado pelo MinC, por meio SPC, em parceria com a Fundação Casa de Rui Barbosa, com apoio de universidades e outras instituições do poder público.

Conselho Nacional de Políticas Culturais

O Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) tem como finalidade propor a formulação de políticas públicas, com vistas a promover a articulação e o debate dos diferentes níveis de governo e a sociedade civil organizada, para o desenvolvimento e o fomento das atividades culturais no território nacional. 

O CNPC realiza, de 24 a 29 de novembro, em Serra Talhada (PE), seu último Fórum Nacional Setorial. O evento servirá para a definição dos integrantes dos Colegiados Setoriais de Artesanato, Culturas Afro-Brasileiras, Culturas Populares e Patrimônio Imaterial. Além disso, será realizada reunião do Colegiado Indígena, eleito em processo separado em agosto passado.

Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura


terça-feira, 24 de novembro de 2015

DEBATES E APRESENTAÇÕES CULTURAIS MARCAM A SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

A série de eventos na Semana da Consciência Negra, em Ilhéus, teve início no dia 17, na terça-feira, e se estendeu até esta sexta-feira, 20. Com atividades concentradas na Biblioteca Pública Municipal Adonias Filho, a programação contou com diversas apresentações culturais, oficinas, intervenção com a Biblioteca Itinerante e rodas de diálogo que contou com a presença de Arany Santana e Vovô do Ilê. A iniciativa é da Prefeitura de Ilhéus, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult).

No evento de abertura, terça-feira, dia 17, Bloco Afro Iorubá apresentou uma coreografia com a sua percussão. Em seguida, o secretário de Cultura lançou a edição 3/2015 da Revista Boca de Cena, produzida pelo Oco Teatro Laboratório, dedicada ao teatro negro na Bahia. De acordo com o prefeito Jabes Ribeiro, essas manifestações reforçam o objetivo do poder público de fomentar debates e atividades que busquem desconstruir preconceitos e somar esforços para uma sociedade mais humana.

Na tarde da quarta-feira, dia 18, na Biblioteca Pública Municipal Adonias Filho, Preta Ashanti e Dani Jêje, da Casa do Boneco de Itacaré, ministraram a Oficina de Turbantes. Durante a oficina, os alunos e alunas puderam aprender diversas técnicas de amarração para turbantes e torços. Em paralelo, foi realizada a Oficina de Percussão ministrada por Bira Monteiro, músico percussionista da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), que contou com a participação de vários músicos e percussionistas dos blocos afros de Ilhéus.

Já na quarta à noite, houve a doação de livros e revistas do Ilê Ayê para a Biblioteca Pública. Logo depois, a roda de conversa “Meu cabelo, minha identidade” contou com a presença de Vovô do Ilê e de Arany Santana, Diretora do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), que emocionou e levou o público discutir e refletir acerca da importância de assumir a estética negra como um ato de afirmação identitária em meio à sociedade que ainda perpetua o racismo.

Na tarde de quinta-feira, dia 19, foi realizada a roda de conversa “Mídia e racismo”, com a presença de Andressa Santos, produtora da Rádio UESC e Islânia Ribeiro, assesora de comunicação da Maramata, para debater a representatividade do negro nos diversos meios de comunicação do país. Em seguida, a professora da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), Roquidelia Santos, ministrou a Oficina de Dança Afro, que contou com expressiva participação dos dançarinos dos blocos afros de Ilhéus.
Encerrando a programação, na sexta-feira, dia 20, foi realizado café da manhã no Alto do Basílio, no início da Avenida Palmares, com a presença de moradores, líderes locais, do vereador Raimundo do Basílio e de grupos afro culturais. Já na Biblioteca Pública, às 09:30h, aconteceu o lançamento do livro “Capoeira e criança: desafios e perspectivas na formação humana” do professor Jean Adriano Barros da Silva. Logo depois, a psicóloga Patrícia Mascarenhas palestrou sobre “A criança na capoeira”. O evento contou com a presença de diversos grupos de capoeira da região.

Durante à tarde, foi realizada a exibição do curta “Bóia Fria” de Sandoval Dourado. Em seguida, a roda de conversa “Violência doméstica contra a mulher negra”, com a de presença de Carla Magalhães, assessora de comunicação da Associação de Afrodensenvolvimento Casa do Boneco de Itacaré e do Coletivo LGBT Flores Astrais e de Natália Santos, graduanda em história na UESC e militante do Levante Popular da Juventude. Finalizando a programação, aconteceram apresentações com os blocos afros Dilazenze, Guerreiros de Zulu, Zambi-Axé, Mini Congo, Iorubá e convidados.


EXPOSIÇÃO ÍNDIOS NA JANELA - NOVO PROJETO DA COMUNIDADE TIA MARITA

 
"Beatriz - a face", óleo sobre tela de Gildásio Rodriguez

Na manhã do dia 23/11, a presidente do Conselho Diretor da Associação Comunidade Tia Marita assinou o Termo de Acordo e Compromisso - TAC que celebra a realização da Exposição Índios na Janela, selecionada no Edital 02/2015 Agitação Cultural - Dinamização dos Espaços Culturais da Bahia, promovido pela Secretaria Estadual de Cultura da Bahia, Secretaria da Fazenda e Governo do Estado da Bahia.
A Exposição Índios na Janela tem a pretensão de discutir o significado dos utensílios indígenas produzidos nas aldeias brasileiras, suas implicações no modo de vida de cada comunidade representada e ainda o desafio de propor significantes e significados a partir das pinturas das faces indígenas.         
A exposição itinerante - que reúne 200 peças indígenas Silvan Barbosa e 20 telas do artista plástico Gildásio Rodriguez - passará pelas cidades de Ilhéus – Terra dos Povos Tupinambás; Porto Seguro – Terra dos Povos Pataxós e Salvador – Terra dos Povos Tapuias.

Viviane Siqueira na sede do Centro de Cultura Adonias Filho para assinatura do TAC

A coleção valiosa do ex-funcionário da FUNAI, por si só - seja pelo seu valor histórico, seja pelo seu valor econômico, seja pelo seu simbolismo como a borduna que pertenceu ao Índio Galdino Jesus dos Santos, líder indígena da etnia pataxó-hã-hã-hãe que foi queimado vivo, no dia 20 de abril de 1997, enquanto dormia em um abrigo de um ponto de ônibus em Brasília - configura-se como instrumentos de valor inestimável para a pesquisa de estudantes, professores e estudiosos da cultura indigenista.
Já a pintura adjunta do artista plástico Gildásio Rodriguez – “O Gil dos Índios” - demonstra um animus natural e ao mesmo tempo energizada que abstrai em cada tela, a dinâmica de inúmeras tribos indígenas retratadas através de suas faces.

O projeto tem previsão de início em fevereiro de 2016.

domingo, 22 de novembro de 2015

O PROTAGONISMO DA CULTURA E A VISÃO ESTRÁBICA DO GESTOR CULTURAL

“O melhor é não juntar pensamentos divergentes,
mas, criar unanimidades burras”.

Convergente, divergente e vertical
Outro dia ouvi de um amigo que era melhor falar por metáforas porque evita dentes quebrados e dor de cabeça na inteireza. Isto porque as pessoas não estão preparadas para ouvir críticas ou sugestões sobre o que vem fazendo na vida profissional.  O fato é que, sem tergiversar, vou direto ao ponto: os governos municipais não se dão conta que colocam na pasta da cultura pessoas com visão estrábica. E, tal qual o estrabismo – sem nenhuma menção pejorativa nem preconceituosa para quem possui este problema muitas vezes hereditário – podemos afirmar que a visão gerencial no campo cultural, de quem está nesta condição, é classificada de três maneiras:
1.   Convergente – quando o gestor não consegue enxergar que o Conselho de Cultura pode ser um aliado poderoso na sua gestão. Deste modo, todas as suas atitudes são atitudes voltadas para dentro de si mesmo;  
2.    Divergente – quando o gestor radicaliza suas decisões e se fecha no seu protagonismo cultural onde só ele é capaz de promover uma determinada ação e
3.    Vertical - quando o gestor planeja sem ouvir as pessoas mais interessadas no Plano de Ação do órgão máximo da cultura: os artistas.

Política de Balcão e Pires na Mão
Quase sempre este tipo de comportamento ocorre quando o gestor traz enraizado em sua experiência duas práticas: a primeira é a “política de balcão”, do favorecimento, do clientelismo, do paternalismo, dos critérios obscuros e das motivações semelhantes como bem diagnostica TURINO (2009): “Um hábito que tanto infelicitou, e infelicita, nossa prática cultural”. Xô! “Quebrem o balcão!” – Diziam os cineastas do Estado de Alagoas para o governo alagoano que até 2013 era o único estado nordestino que não possuía uma política cultural de fomento.
A segunda é a prática do “pires na mão”, cuja origem se diz que surgiu com os prefeitos que cobram dia-após-dia de seus parlamentares emendas para resolver as cobranças da população. O ato em si de cobrar não conceitua a expressão “pires na mão,” porém, o vai-e-vem à Brasília, a exigência de documentação para liberar a emenda, a modelagem obrigatória de projetos, estar em dia com o Cadastro Único para Exigências de Transferências Voluntárias – CAUC - transforma o prefeito num pedinte de primeira grandeza. Assista ao vídeo “O calvário dos prefeitos para conseguir recursos – A história do pires na mão”, no YouTube, e verifique.
São estas práticas do gestor cultural que reduz a Cultura à cereja do bolo. Ou seja, a Cultura passa a ser vista aqui como a prima pobre, a pasta coitada, a que sempre é relegada a segundo, terceiro ou décimo plano.  O gestor traz consigo a marca da esfera pedinte, amadora, chata, que é lembrada apenas quando o governo inaugura alguma coisa.
A situação complica quando estas três formas são simultâneas e o gestor, perdido, nunca tem certeza de nada e está sempre ajustando sua prática à prática do outro. Torna-se um camaleão sem cor, não sabe fundir ideias e propostas, desconhece o conceito de convergência e acredita que o melhor é não juntar pensamentos divergentes, mas, criar unanimidades burras.

Para que haja protagonismo cultural
Para que a Cultura assuma de vez seu protagonismo no campo das políticas públicas e na gestão municipal e deixe de “ser vista como acessória no conjunto das políticas governamentais” (BOTELHO, 2001) é preciso considerar alguns aspectos:
a) O cargo deve ser técnico. Além de técnico o gestor precisa ser político;
b) Deve possuir qualificação e experiência - condições indispensáveis;
c) Sem bajulação ou lisonjeio gozar do apoio do prefeito;
d) Precisa convencer os companheiros de governo que a Cultura é transversal. Para isso terá que saber articular as demais esferas do governo como um programa conjunto;
e) Seu plano de ações deve prever atividades que estimulem o pertencimento junto à comunidade. Porém, isso só será possível se ele estiver em constante diálogo com ela;
f) Tem que definir logo no início do seu mandato qual o conceito de Cultura que irá trabalhar;
g) Mapear toda a comunidade cultural. Na sua sala tem um mapa onde ele pode traçar sua ação, metas e objetivos já alcançados, identificando grupos, instituições, coletivos no Município;
h) Quando pensar em programas e projetos que democratizem o acesso aos bens culturais precisa primeiro pensar na democracia cultural. Não adianta levar orquestra sinfônica para a comunidade se a comunidade nem sequer foi ouvida se queria ver uma orquestra sinfônica;
i) Esquecer de vez a função de produtora. Um órgão de cultura não pode produzir eventos de todos os gostos e todos os tipos. Precisa fomentar, criar oportunidades e condições para que os verdadeiros promotores de eventos desenvolvam seus projetos;
j) No seu planejamento estratégico não pode faltar programas de formação e capacitação dos artistas e técnicos. Deve criar objetivos e metas que possam ser alcançados. Não pode trabalhar de forma empírica e ao sabor do vento. Do vento do orçamento, do aval do prefeito, da boa vontade da secretaria da fazenda. Se há planejamento financeiro, há disponibilidade orçamentária. Os imprevistos podem ser sanados com os parceiros locais. E, os parceiros não podem ser apoiadores de ocasião, nem amigos afins, mas conectores que acreditam no processo de transformação através da Cultura;
l) Seu principal foco deve ser a reterritorialização. “Mesmo no âmbito da cultura global, surgem espaços destinados aos produtos “típicos”. A reterritorialização contemporânea, com a emergência cultural das cidades e regiões, tem sido a contrapartida da globalização cultural.  Assim, o panorama atual aponta para um desigual e combinado processo de glocalização” (RUBIM, 2006). Sem valorização do local não consegue ganhar apoio da comunidade cultural. Fica isolado, desacreditado e dá a impressão de que não faz nada. E quando faz, passa despercebido;
m) Suas estratégias devem envolver o Conselho Municipal de Cultura, a captação de recursos para o Fundo Municipal de Cultura e selar de vez o Sistema Municipal de Cultura;
n) Deve promover a participação efetiva dos artistas locais em grandes datas comemorativas, a exemplo do Carnaval, São João, Réveillon, aniversário da Cidade, dando-lhes condições dignas com camarins próprios, cachês justos e tratamento semelhante ou melhor do que os artistas visitantes.
Ora, uma ação de governo que se pretenda progressista, ou transformadora, tem a Cultura como prioridade, assinala TURINO (2009). Não dá para agir assim se os gestores culturais continuarem com esta visão estrábica e, também, míope! O que requer aí um outro artigo para esclarecer – e convencer – de que um verdadeiro gestor da cultura tem que ter olho de tandera. Sua capacidade de enxergar tem que ir além do que está no seu campo de visão.   

Sem alinhamento não há convergência
Se ele consegue municipalizar a Cultura e ampliar o orçamento vira referência. É copiado, lembrado e apontado como figura ímpar, e seu nome estará nos anais da história. Se não conseguir, e nem sequer pensar assim, cada olho – assim como no estrabismo – irá formar uma imagem diferente do objeto. Afinal, sem alinhamento, não há convergência. É claro que neste cenário aparentemente caótico existem bons exemplos que se espalham pelo país, como o Município de Goiana, em Pernambuco, onde são investidos 2% do orçamento anual em Cultura. “Estamos escrevendo uma nova página na rica e singular história de Goiana. Somos hoje a cidade que, além de possuir um tecido cultural diversificado, nos preocupamos em fomentar e garantir subsídios para que o fazer cultural seja valorizado”, disse o prefeito Fred Gadelha, em entrevista na página oficial da prefeitura da cidade.
Imagine um Conselho de Cultura que não compreende seu papel e sua função. Agora, some-se a isso um gestor cultural despreparado e divergente. Qual o resultado? Uma política cultural inexistente e um sistema inoperante.
Todos estes aspectos aqui elencados devem ser considerados de forma conjunta e nunca isoladamente. Senão, sua administração recairá em uma ou mais classificações estrábicas. Porém, se o seu planejamento excluir qualquer forma imediatista, estará priorizando escolhas de médio e longo prazos, dando a todos a possibilidade de escolhas e contemplando as várias dimensões da cultura sem nenhum preconceito ou dirigismo: “O Estado tem de estar a serviço da sociedade e nunca o contrário” (TURINO 2009). Segundo ele para que a administração pública cresça é preciso “assumir uma postura mais humilde e menos impositiva quanto à proposição e execução de programas”. É desta maneira que Estados e Municípios podem se tornar articuladores, jamais produtores.

Considerações finais
Afirmar que: os governos municipais não se dão conta que colocam na pasta da cultura pessoas com visão estrábica não faz desta sentença uma regra. Afinal, toda regra tem exceção. Melhor, exceções. E mais, garantir o investimento de 1% - como prevê a PEC 421 - ou 2% como deseja o Município de Goiana para o fomento, não são suficientes para a construção de uma política cultural de descentralização de recursos. Há de se considerar as forças artístico-culturais, organizadas, que tentarão cooptar o maior número possível de investimentos para suas áreas. E, se o gestor não tiver a capacidade de saber “dividir o bolo”, controlar os egos, fortalecer as tradições, impor limites e provocar intervenções, dificilmente teremos ações estruturantes, projetos sustentáveis e programas de fortalecimento para a diversidade cultural.
E, quando as forças organizadas se deslocam como tratores contra os gestores estrábicos, eles, acuados, sem planejamento, partem para uma política de eventos – imediatista - na contramão da política cultural, formando “um conjunto de programas isolados – que não configuram um sistema, não se ligam necessariamente a programas anteriores nem lançam pontes necessárias para programas futuros – constituídos por eventos soltos uns em relação aos outros” (COELHO, 2004).
O gestor cultural precisa pensar localmente, agir globalmente e se fortalecer coletivamente. O desejo de construir em conjunto, de unir forças não o torna incapaz na condução de seus trabalhos. Pelo contrário, demonstra liderança, legitimidade, segurança, competência e capacidade de congregar em um mesmo ambiente, pensamentos divergentes, ações estruturantes e relações horizontais.

[1] Pawlo Cidade é escritor, produtor, gestor cultural e diretor artístico da Comunidade Tia Marita. Autor da cartilha “Como Transformar a Cultura em um bom negócio – 17 perguntas para você se tornar um empreendedor cultural”, Editora A5, Itabuna, Bahia, 2014.


REFERÊNCIA
TURINO, Célio. Uma gestão cultural transformadora, 2009. Disponível em:  http://www.fmauriciograbois.org.br/cultura/index.php?option=com_content&view=article&id=10:gestao Acesso em: 21 de nov. 2015.
RUBIM, A. A. C. Políticas Culturais entre o possível e o impossível. In: Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 2., 2006. Salvador-Bahia.
BOTELHO, Isaura. Dimensões da cultura e políticas públicas, 2001. Disponível em: http://www.guiacultural.unicamp.br/sites/default/files/botelho_i_dimensoes_da_cultura_e_politicas_publicas.pdf Acesso em 21 de nov. 2015.
COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Editora Iluminuras, 2004. 300 p.