domingo, 14 de julho de 2013

CRÔNICA

OS PERIQUITOS DE PEDRO
Por Pawlo Cidade

Charge de Pedro, criação de Pawlo Cidade

Eles viraram uma atração à parte. Chegam por volta das cinco da tarde e ficam por ali até quase anoitecer. Depois, seguem sua trajetória. E têm repetido esta cena vespertinamente. Fazem um escarcéu, cagam tudo, brincam, brigam, namoram, pulam de um galho para outro. Estou falando dos periquitos-verdes ou periquito-rico como são conhecidas as aves que pousam na Praça Pedro Mattos, em frente ao Teatro Municipal, e na amendoeira da Praça Dom Eduardo.
Não sou nenhum biólogo, mas, basta olhar a cor básica das plumas, com as partes inferiores e laterais da cabeça, peito e abdômen com um verde de tons amarelados para denominá-los de periquitos-verdes. A parte traseira da cabeça, a nuca, é de um verde levemente azulado. A base das asas é de um marrom oliváceo. O bico é amarronzado, mais claro no topo. A íris é de um marrom-escuro, com a pupila de cor negra. Os pés são de cor semelhante à do bico, porém mais escura. A cauda é longa, com penas de cor verde-azuladas.
O curioso é que eles vivem em casais e, segundo algumas pesquisas, permanecem unidos por toda a vida. Eles constroem ninhos em buracos nas árvores ou nas bainhas foliares de palmeiras, junto ao tronco.
Quando eles chegam, ficar embaixo das árvores pode resultar em prejuízo. Afinal, quem quer ser batizado com os excrementos a esmo que caem sem avisar? Não sei se Pedro - o mesmo que leva o nome da praça - estivesse vivo iria gostar do barulho das aves. Certamente, soltaria uns três palavrões e tentaria espantar os bichos, caso fosse escolhido por eles para tingir a cabeça ou a camisa. Não que Pedro Mattos fosse um cara impaciente. Pelo contrário, a sua impetuosidade se dava pela espontaneidade. Pedro não tinha papas na língua e falava tudo que lhe vinha à boca. Esse negócio de pensar primeiro podia se tornar para o velho diretor de Teatro, uma oportunidade perdida.
Talvez fosse por isso que Pedro Mattos era admirado e odiado ao mesmo tempo. Com Pedro, a velha máxima “ame-o ou deixe-o” fazia sentido. Era bem capaz, se vivo estivesse, de sair no próximo carnaval vestido de Periquito-verde, só pra contrariar os ambientalistas de plantão ou homenagear as aves do fim de tarde da Praça do Teatro. Do Teatro, não! De Pedro. Era ali que ele tomava seu cafezinho, acendia seu cigarro, criticava as peças de teatro, ridicularizava o sistema, fazia vigília para o Teatro ser erguido e rabiscava sua coluna semanal para o jornal Agora.
Os mais novos que agora fazem Teatro comigo, talvez nunca tenham ouvido falar de Pedro Mattos. Mas, eu, Alfredo Amorim, Marinho Rodrigues, Fábio Lago, Tânia Barbosa, Romualdo Lisboa, Valdiná Guerra, Janete Lainha, Jocélia Kaffer, Tereza Damásio, Telma Sá, Jorge Batista, Val Kakau, Andréa Bandeira e tantos outros, certamente, darão muita risada se neste exato momento estiverem imaginando o mestre Pedro Mattos, vestido de periquito-verde, desfilando pela Avenida Soares Lopes, em pleno domingo de carnaval, como só ele sabia fazer.
          Saudades, Pedro! A onze anos você partiu. 

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