quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

EDITORIAL

CULTURA DA UTOPIA
Pawlo Cidade


Imagem meramente ilustrativa

"...Enquanto isso, aqui no Brasil, ministérios são extintos, secretarias viram departamentos, convidam-se pessoas despreparadas para gerir a Cultura; bibliotecas são fechadas, livros clássicos são considerados subversivos ou jogados fora..."

A rede de bibliotecas públicas e privadas e também aquelas ligadas às associações de bairros e ONGs é uma realidade no país. Há projetos em que se criam e se consolidam hábitos de leitura nas crianças desde os primeiros anos. Eles estimulam a imaginação e a criatividade em crianças e jovens. As bibliotecas, articuladas em rede, prestam apoio e participam de programas e atividades de alfabetização para todas as faixas etárias. Fantástico isso, não é? Ter uma biblioteca que sai de sua posição moribunda e se transforma num centro de vida e estímulo à leitura.
Há um programa conhecido como “Ler é a minha história” que dialoga com o Plano Nacional de Leitura e Escrita onde o Governo Federal considera imprescindível que todos os cidadãos tenham acesso ao livro: “o bem cultural que oferece uma das experiências humanas mais enriquecedoras” para o ser humano. 
Bairros, distritos, povoados mais longínquos agora possuem uma biblioteca. E o que é mais importante: a biblioteca dialoga com a comunidade, tornando-a participativa em todos os campos de produção.
Foram também criadas escolas municipais de arte e música e novos museus, sobretudo os que têm gerido a cultura viva: festas e festivais, artesanatos, música, teatro, dança. O agente cultural local é o protagonista da política e da gestão cultural, pois são nas comunidades que a vida cultural se desenvolve e toda a programação cultural parte das necessidades destas mesmas comunidades.
A cada um real que os governos municipais investem em cultura, o governo federal coloca mais um real. Portanto, 50% cabe ao Estado, 50% cabe ao Município nas ações de financiamento da Cultura. Existem municípios que aportam até 25% do seu orçamento em Cultura! Na câmara de vereadores destas cidades heróicas existe um político eleito voltado especificamente à Cultura e uma equipe de gestão e administração cultural com uma função pública territorial específica para o setor cultural em cada localidade.
O Sistema Nacional de Cultura é uma realidade. Cada ente federado cumpre à risca os seus papéis. Ele funciona como uma rede horizontal onde todas as instâncias e instrumentos funcionam plenamente.
PERAÍ! Aonde é que é isso mesmo? No Brasil? (Rs) Para com essa cultura da utopia que está ficando feio! Infelizmente preciso ser realista. Não estou aqui toda semana para contar histórias da carochinha. 
“Ler é a minha história” é um projeto desenvolvido em todos os bairros, distritos e estados da Co-lôm-bia. Inclusive, todo ano, a Colômbia lança uma campanha para que os pais e os adultos adotem um hábito que estimule diretamente as crianças e jovens o gosto pela leitura. É o projeto “a leitura em voz alta”. Na Colômbia, todos os órgãos do governo se envolvem em campanhas de acesso ao livro e à leitura. Isso inclui a Educação, o Esporte e o Desenvolvimento Social.
Escolas municipais de arte e música são fortalecidas e criadas todos os anos e há investimento forte na cultura popular, sobretudo nos fazedores da arte na Espanha. Artesanato, manifestações espontâneas da sociedade civil são levadas à sério. 
Existem municípios que investem 25% do seu orçamento em Cultura? Parece utópico, para nós, brasileiros, principalmente, para aqueles que consideram Cultura como gasto e não investimento. Mas existe sim! É na França! Naquele país os investimentos são territorializados. Um sonho para os 27 territórios da Bahia! 
E mais: os municípios, sem qualquer obrigação de investir (mas o fazem porque acreditam nisso) financiam diretamente a maioria das despesas culturais, com um orçamento total de cerca de 7 bilhões de euros, nas chamadas coletividades territoriais.
Enquanto isso, aqui no Brasil, ministérios são extintos, secretarias viram departamentos, convidam-se pessoas despreparadas para gerir a Cultura; bibliotecas são fechadas, livros clássicos são considerados subversivos ou jogados fora; patrimônio cultural depredado; escolas de arte e música estão falindo e o orçamento para as atividades culturais se resumem a São João, réveillon e carnaval. Com um detalhe perverso: a maior parte do bolo vai para quem não faz parte da comunidade local!

Estas informações podem ser confirmadas nas seguintes fontes:

RIBUGENT, Gemma Carbó. A Cultura: Sistemas políticos e de gestão na Espanha democrática, in: Seminário Internacional Sistemas de Cultura: Política e Gestão Cultural descentralizada e participativa, MinC, Brasília, 2016; 
QUILES, Jean Pascal. A descentralização cultural na França: processos e características, in: Seminário Internacional Sistemas de Cultura: Política e Gestão Cultural descentralizada e participativa, MinC, Brasília, 2016;
BARRERA, Sandra Patricia.Rede Nacional de Bibliotecas Públicas da Colômbia: apostas, realizações e desafios, in: Seminário Internacional Sistemas de Cultura: Política e Gestão Cultural descentralizada e participativa, MinC, Brasília, 2016.

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