"As pessoas não podem viver só de cultura e nem só de dinheiro. É preciso fazer uma mistura, e um não pode substituir o outro". Ao ler esta frase de Clay Shirky (A Cultura da Participação, Zahar 2011) podemos chegar à conclusão de que a economia criativa pode ser traduzida, entre outras coisas, como uma forma de geração de trabalho, renda, oportunidades empreendedoras e crescimento econômico. Entretanto, dois grandes desafios precisam ser vencidos. O primeiro é criar uma articulação que permita a construção de políticas integradas para o setor. Um grande exemplo de articulação e criatividade está nos catadores de papel e latinha dos grandes centros, sobretudo São Paulo. Foi a necessidade (e claro, a criatividade) dessas pessoas que fizeram com que o país conquistasse o primeiro lugar no mundo em reciclagem de alumínio. A indústria precisa dessa coleta para reinserir essa matéria-prima novamente na cadeia produtiva. |
A construção de políticas complementares requer o envolvimento do município, do Estado e da Federação, bem como os ministérios, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada. Os catadores sozinhos e em alguns casos através de cooperativas, como a Viralata (www.viralata.org.br) usaram a criatividade para aproveitar essa oportunidade de mercado e desenvolveram seu próprio processo de coleta, armazenamento e distribuição desse material de reciclagem. Desde o início, a Viralata fez com que os próprios cooperados aprendessem a gestão integrada dos processos. O negócio deu tão certo que eles não faziam mais coletas através de “galinhotas”, mas em caminhões próprios para aumentar o volume coletado. E assim, firmou parcerias com escolas, parques, condomínios e empresas “trazendo o catador para dentro da cooperativa e trabalhando com mais qualidade de vida.”
O segundo desafio está na questão dos Direitos Autorais. Como garanti-los numa sociedade em que tecnologias e ideias respondem por 80% do crescimento econômico, de acordo com o INPI? Como controlar o acesso de milhares de pessoas na internet? Se, por um lado podemos ter acesso ao conhecimento livremente, como criar um mecanismo que garanta os direitos dos criadores de propriedades intelectuais?
Entre tantos desafios, o fato é que a Economia Criativa credita à Cultura, “o papel de promover desenvolvimento socioeconômico e regional, por meio de um novo modelo de desenvolvimento mais inclusivo, solidário e descentrado”. Indubitavelmente, a tendência mundial é de uma economia menos concentrada no tradicional modelo industrial e mais ligada à geração de ideias. E isso, certamente irá proporcionar a criação de serviços que vencerão estes desafios.
(Texto de Pawlo Cidade produzido para o Curso de Economia da Cultura FGV/MinC)
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