sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

EDITORIAL


“O PMC não é documento de arquivo. É a prova viva de uma classe que compreendeu que as ações culturais devem perpassar governos. Por isso ele é chamado de Plano de Estado!”
P.C.
MINHA RELAÇÃO COM A GESTÃO CULTURAL
E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA
Artistas e vereadores que no dia da aprovação do PMC 

Quando a gente houve de um artista que, teoricamente, foi um militante de sua classe, ralou, aprovou projetos e defendeu com unhas e dentes seu papel enquanto “articulador das Políticas Públicas de Cultura” que tudo que a gente conquistou e todas as leis que foram criadas para perpetuar governos (Fundo de Cultura, Conselho de Cultura, Plano de Cultura) podem ser revogadas, é lamentável.

Fiquei na gestão pública de cultura por quase vinte anos. Fui inicialmente Diretor de Cursos e Eventos, depois passei a Chefe de Pesquisa, Coordenador de Cultura, Gestor do Espaço Cultural Bataclan e por último Assessor da Divisão de Cultura. Meu foco sempre foi o de colocar a comunidade em primeiro plano. Afinal, ela é a mais interessada na Cultura.

Nos últimos cinco anos me especializei em projetos culturais e captação de recursos. Tive sucesso em uns, perdi outros. O engraçado é como as pessoas que estão “de fora” vêm os produtores culturais. Eles acham que só porque ganhamos, por exemplo, duzentos mil reais em uma proposta que estamos cheios de dinheiro. Como se os recursos públicos fossem algum prêmio da loteria que nos permitisse comprar carro zero, casa na praia, imóveis em outros estados, pagar a faculdade do filho etc etc etc.


Geralmente, em cada projeto, ficamos com 5% a 10% do valor total. Isso quando não gastamos com outras coisas que não estavam previstas ou que simplesmente esquecemos. A única certeza que temos em um projeto é que vamos esquecer alguma coisa ou ainda que “alguma coisa var dar errado.” Foi assim no Forteatro-Sul, Cangaço, Capitães do Morro, Na Trilha de Lampião, Ouvindo um Tesouro e Caravana Cultural. Sem mencionar aqueles que ajudamos a conceber.

Mas, como iniciei este artigo, venho aqui externar minha preocupação quanto a tudo que nós, artistas, conquistamos nestes últimos oito anos. O Conselho de Cultura que outrora era chamado de “conselho de notáveis”, hoje é democrático, representativo e, sobretudo, paritário. Todas as câmaras temáticas estão agora representadas. Somos o principal órgão de fiscalização da Cultura no município. Somos responsáveis por aconselhar e deliberar à Fundação Cultural onde os recursos do Fundo devem ser gastos.

E o que dizer do Plano Municipal de Cultura, nascido da discussão de duas conferências e um encontro de artistas? As 43 metas ali elencadas não surgiram do acaso. Elas representam o desejo de uma sociedade civil que ajudou a construí-las. O PMC não é documento de arquivo. É a prova viva de uma classe que compreendeu que as ações culturais devem perpassar governos. Por isso ele é chamado de Plano de Estado!

Ilhéus também tem um Fundo Municipal de Cultura. Desde que foi criado pela Lei 3.454/2009 e alterado pela Lei 3.638/2012 que corrige o percentual do crédito que deve ser consignado na Lei Orçamentária Anual, dois pequenos editais foram lançados. O primeiro durante o Festival Amar Amado e o segundo para auxiliar artistas e produtores na elaboração de projetos culturais. Pouco mais de R$ 50.000,00 reais foi movimentado desde a sua criação. Ainda é pouco, muito pouco. Se considerarmos que o governo municipal, na gestão de 2009-2012 não repassou sequer um centavo. Tudo que entrou no fundo foi do FCBA e da Maná Produções.

Há uma previsão orçamentária para 2013 de mais de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais). Destes, R$ 124.000,00 diretos da Lei Orçamentária do município que corresponde a 0,5% como determina a Lei 3.638/2012. E o restante será oriundo de repasses do FCBA da Secretaria de Cultura do Estado. E mais: se o governo atual finalizar o Acordo de Cooperação Técnica com o Ministério da Cultura, esse montante poderá dobrar.

Sabemos que ainda é pouco. Todavia, para a atual situação financeira do município pode ser muito. Podemos afirmar que Ilhéus possui uma Política Pública de Cultura que deve continuar avançando. É fato que nossos espaços estão carentes de reformas, de políticas de manutenção e dinamização que não ocorreram nos últimos anos. Porém, que venham novos editais municipais ou outras formas democráticas de financiar projetos culturais. Não queremos voltar à política do balcão. Queremos que os recursos destinados à Cultura sejam sempre transparentes, descentralizados e justos. 

Pawlo Cidade - Diretor Artístico
Presidente do FAEGSUL

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