sábado, 2 de fevereiro de 2013

EDITORIAL


“Que é Teatralidade? É o Teatro menos o texto, é uma espessura de signos e de sensações
que se edifica em cena a partir do argumento escrito...”
BARTHES

 O termo Teatro vem de origem da palavra grega theatron que significa: lugar onde o público olha uma ação que lhe é apresentada num outro lugar. Para Patrice Pavis, “o Teatro é mesmo, na verdade, um ponto de vista sobre um acontecimento: um olhar, um ângulo de visão e raios ópticos o constituem. Tão-somente pelo deslocamento da relação entre olhar e objeto olhado é que ocorre a construção onde tem lugar a representação.”
E o que da Teatralidade? É bem provável que este conceito tenha se originado na mesma oposição que literatura/literalidade. A Teatralidade seria aquilo que, “na representação ou no texto dramático, é especificamente teatral (ou cênico) no sentido que o entende, por exemplo, Antonin Artaud, quando constata o recalcamento da teatralidade no palco europeu tradicional...”
A Teatralidade pode opor-se ao texto dramático lido ou concebido sem a representação mental de uma encenação, afirma ainda o autor. Em vez de achatar o texto dramático por uma leitura, a espacialização, isto é, a visualização dos enunciadores, permite fazer ressaltar a potencialidade visual e auditiva do texto, apreender sua teatralidade: “Que é Teatralidade? É o Teatro menos o texto, é uma espessura de signos e de sensações que se edifica em cena a partir do argumento escrito, é aquela espécie de percepção ecumênica dos artifícios sensuais, gestos, tons, distâncias, substâncias, luzes, que submerge o texto sob a plenitude de sua linguagem exterior.”
Essa discussão é bastante interessante, porque ela se apresenta como um conceito que pode alterar o sentido da palavra Teatro. Talvez – e isso é quase certo – Teatro e Teatralidade se completem. É possível que uma viva sem a outra. Um ator pode ser teatral durante um bom tempo. Porém, enquanto ele for teatral, estará criando aí uma modalidade de Teatro. Paradoxal? Controverso? Não, se considerarmos que teatral quer dizer, “muito simplesmente: espacial, visual, expressivo, no sentido que se fala de uma cena muito espetacular e impressionante.”
Por outro lado, podemos também entender a expressão teatral como sendo a maneira específica da enunciação teatral, a circulação da fala, o desdobramento visual da enunciação (personagem/ator) e de seus enunciados, a artificialidade da representação. “A Teatralidade se assemelha, isto é, a projeção, no mundo sensível, dos estados e imagens que constituem suas molas ocultas (...) a manifestação do conteúdo oculto, latente, que acoita os germes do drama.”
O fato é que não existe uma essência absoluta no Teatro. Isso faz com que possamos enumerar alguns elementos indispensáveis a qualquer fenômeno teatral. E um destes elementos é a Teatralidade. Não ousaria afirmar que a Teatralidade é uma propriedade do texto dramático. Mas, certamente é o que se fala de um texto quando ele é muito “teatral” ou “dramático”, sugerindo assim – como afirma Patrice Pavis – que ele se presta bem à transposição cênica (visualidade do jogo teatral, conflitos abertos, troca rápida de diálogos).
Em breve, falaremos sobre o tema em um Seminário específico que a Câmara e o Colegiado Setorial de Teatro estarão promovendo.

 Pawlo Cidade
Diretor Artístico 

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