
Há muito, muito tempo, no Rio de
Janeiro, meu querido e saudoso amigo Gonzaguinha me chamou a um canto e me
contou o seguinte: “Jorge, estou começando a compor uma música de uma forma
totalmente diferente das parcerias tradicionais. É o seguinte: pego o telefone,
ligo pra um amigo e faço uma pergunta: o que é a vida pra você? Só quero uma
palavra ou, no máximo, uma frase. A pessoa responde, eu anoto. Quando eu já
tiver um monte de respostas, as mais diferentes possíveis, vou “costurar” a
letra e fazer o samba com o maior número de parceiros que já houve. E arrematou
sorrindo, com aquele sorriso Gonzaguiano: “ vou terminar entrando pro livro dos
recordes…”
Passou-se algum tempo, voltei à
Bahia e lá um dia, ao ligar o rádio, ouço a voz de Gonzaguinha cantando um
samba que me estremeceu, de saída. Reconheci de pronto: é esse o samba dos
telefonemas! A música “estourou em todo o Brasil, gravado por ele mesmo e,
depois, por Maria Bethânia. Não há quem não saiba: “Viver e não ter a vergonha
de ser feliz…”
É nesse tom que eu quero
intensificar mais ainda minha gestão na Secretaria de Cultura da Bahia. Digo
“mais ainda”, porque recebo uma “herança bendita” dos meus antecessores Márcio
Meirelles e Albino Rubim, que se traduz em TERRITORIALIZAÇÃO, INTERIORIZAÇÃO DA
CULTURA, CONTINUAÇÃO E AMPLIAÇÃO DOS EDITAIS… E TODAS AS PARCERIAS EXITOSAS
FIRMADAS COM AS DEMAIS SECRETARIAS.
Continue lendo o discurso de Jorge Portugal. Clique no link abaixo:
O paradigma é o da interdisciplinaridade,
e não existe secretaria mais transversal que a da cultura. A cultura atravessa
e vivifica todas as outras. Por conseguinte, vamos compor ações com o Turismo,
com o Meio Ambiente, com o Trabalho, com a Sepromi, com o Desenvolvimento
Social, Desenvolvimento Rural, com TODAS, praticamente! Com a Segurança Pública
de forma imediata e especial para que nossos “prêmios nobel” não continuem
morrendo nas comunidades, porque não chegaram nem à metade do caminho.
O desafio é grande; o trabalho,
árduo. Algumas vezes vocês vão me ver com o coração partido por ver que tantos
projetos maravilhosos não puderam ser contemplados por conta da escassez de
recursos; porém, muitíssimas vezes vão saber que não poupei “sola de sapato”
batendo à porta de diversas empresas propondo parcerias e de demais órgãos
governamentais, com vistas a dilatar nosso diminuto orçamento. Tangenciado pela
sorte, acredito muito numa profícua dobradinha baiana que haveremos de fazer
com o Ministro Juca Ferreira, no Ministério da Cultura!
Tenho pouco a dizer agora, que só
inicio a jornada. As palavras que me animam, neste momento, ainda estão na
categoria de substantivos abstratos: vontade, esperança, fé, mas que certamente
se concretizarão ao serem substituídas por uma só, que materializa as três:
trabalho, trabalho, trabalho.
Quem nasceu na Bahia, no coração do
recôncavo, em Santo Amaro da Purificação e negro, continua tendo como fonte de
inspiração as jaculatórias e o samba de roda; o oceano Atlântico e o Rio Subaé;
João Gilberto e mestre João do Boi. Porque… A MINHA PELE DE ÉBANO/ É A MINHA
ALMA NUA/ ESPALHANDO A LUZ DO SOL/ ESPELHANDO A LUZ DA LUA/ TEM A PLUMAGEM DA
NOITE/ E A LIBERDADE DA RUA/MINHA PELE É LINGUAGEM/ E A LEITURA É TODA SUA…
Jorge Portugal
Discurso de transmissão de cargo –
06/01/2015
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