terça-feira, 6 de janeiro de 2015

"O PARADIGMA É O DA INTERDISCIPLINARIDADE, E NÃO EXISTE SECRETARIA MAIS TRANSVERSAL QUE A DA CULTURA."


Há muito, muito tempo, no Rio de Janeiro, meu querido e saudoso amigo Gonzaguinha me chamou a um canto e me contou o seguinte: “Jorge, estou começando a compor uma música de uma forma totalmente diferente das parcerias tradicionais. É o seguinte: pego o telefone, ligo pra um amigo e faço uma pergunta: o que é a vida pra você? Só quero uma palavra ou, no máximo, uma frase. A pessoa responde, eu anoto. Quando eu já tiver um monte de respostas, as mais diferentes possíveis, vou “costurar” a letra e fazer o samba com o maior número de parceiros que já houve. E arrematou sorrindo, com aquele sorriso Gonzaguiano: “ vou terminar entrando pro livro dos recordes…”

Passou-se algum tempo, voltei à Bahia e lá um dia, ao ligar o rádio, ouço a voz de Gonzaguinha cantando um samba que me estremeceu, de saída. Reconheci de pronto: é esse o samba dos telefonemas! A música “estourou em todo o Brasil, gravado por ele mesmo e, depois, por Maria Bethânia. Não há quem não saiba: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz…”

É nesse tom que eu quero intensificar mais ainda minha gestão na Secretaria de Cultura da Bahia. Digo “mais ainda”, porque recebo uma “herança bendita” dos meus antecessores Márcio Meirelles e Albino Rubim, que se traduz em TERRITORIALIZAÇÃO, INTERIORIZAÇÃO DA CULTURA, CONTINUAÇÃO E AMPLIAÇÃO DOS EDITAIS… E TODAS AS PARCERIAS EXITOSAS FIRMADAS COM AS DEMAIS SECRETARIAS.

Continue lendo o discurso de Jorge Portugal. Clique no link abaixo:
Outro dia, mal tinha sido anunciado secretário de cultura, uma pessoa escreveu, com tintas carregadas, que o novo secretário, em vista dos poucos recursos da pasta, teria que dialogar com a secretaria de educação, por imposição do governador Rui Costa. Respondi-lhe que a imposição não era do governador e sim da realidade. Esclareci que há um bom tempo a abordagem do real já não é mais cartesiana, como o foi durante séculos, nesta banda ocidental do mundo. Tudo toca em tudo. Tudo troca-se por tudo. Tudo interpenetra-se.

O paradigma é o da interdisciplinaridade, e não existe secretaria mais transversal que a da cultura. A cultura atravessa e vivifica todas as outras. Por conseguinte, vamos compor ações com o Turismo, com o Meio Ambiente, com o Trabalho, com a Sepromi, com o Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Rural, com TODAS, praticamente! Com a Segurança Pública de forma imediata e especial para que nossos “prêmios nobel” não continuem morrendo nas comunidades, porque não chegaram nem à metade do caminho.
O desafio é grande; o trabalho, árduo. Algumas vezes vocês vão me ver com o coração partido por ver que tantos projetos maravilhosos não puderam ser contemplados por conta da escassez de recursos; porém, muitíssimas vezes vão saber que não poupei “sola de sapato” batendo à porta de diversas empresas propondo parcerias e de demais órgãos governamentais, com vistas a dilatar nosso diminuto orçamento. Tangenciado pela sorte, acredito muito numa profícua dobradinha baiana que haveremos de fazer com o Ministro Juca Ferreira, no Ministério da Cultura!

Tenho pouco a dizer agora, que só inicio a jornada. As palavras que me animam, neste momento, ainda estão na categoria de substantivos abstratos: vontade, esperança, fé, mas que certamente se concretizarão ao serem substituídas por uma só, que materializa as três: trabalho, trabalho, trabalho.

Quem nasceu na Bahia, no coração do recôncavo, em Santo Amaro da Purificação e negro, continua tendo como fonte de inspiração as jaculatórias e o samba de roda; o oceano Atlântico e o Rio Subaé; João Gilberto e mestre João do Boi. Porque… A MINHA PELE DE ÉBANO/ É A MINHA ALMA NUA/ ESPALHANDO A LUZ DO SOL/ ESPELHANDO A LUZ DA LUA/ TEM A PLUMAGEM DA NOITE/ E A LIBERDADE DA RUA/MINHA PELE É LINGUAGEM/ E A LEITURA É TODA SUA…

Jorge Portugal
Discurso de transmissão de cargo – 06/01/2015


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