REPENSAR AS POLÍTICAS CULTURAIS
Pawlo Cidade*
É
fato que as tecnologias digitais transformaram a cadeia de valor cultural. No
entanto, a ascensão das plataformas digitais gerou vários desafios. 95% do
valor da economia de aplicativos está concentrada em 10 países. Houve uma
explosão de dados privados na rede. A cada 60 segundos, são disparados 347.222
tweets; 527.760 fotos são compartilhadas no Snapchat; 2,78 minutos de vídeos
são visualizados no YouTube; 701.389 pessoas conectam-se ao Facebook e 51.000
aplicativos são baixados da Apple. Estes dados estão disponíveis no resumo do
Relatório da UNESCO, publicado em 2018.
Diante
desta quantidade imensa de dados a gente ainda não sabe como utilizá-los. Entretanto, alguns grupos já aprenderam a
manipular, ou melhor, a usar toda esta informação para seu próprio benefício. Tudo
que a gente precisa saber está na rede. Eu disse tudo! É possível saber o que
você come, veste, fala, sente, pasmem! Até o que você pensa. Claro que na
verdade tudo não passa de uma combinação de números e hábitos que é possível
dizer o que você vai fazer nos próximos dez minutos que ficar em frente ao WhatsApp,
ao Facebook ou o tweet. A Cultura precisa aprender a usar estas ferramentas
tecnológicas, adentrar no mundo das redes sociais e despertar no indivíduo o
gosto pelo teatro, pela música, pelas artes visuais, pelo circo. Sei que
despertar apenas basta. O desafio maior está em manter estes mesmos indivíduos
conectados na arte e na cultura. a área do marketing sabe muito bem disso,
afinal, “conquistar é fácil, difícil é manter o que foi conquistado”.
Como
podemos fazer isso? Confesso que também gostaria de saber. A Unesco nos delega,
e aqui eu me refiro ao Estado, a função de “adotar planos e estratégias
digitais para investir na produção cultural local”. Parece uma questão simples,
mas não é. É aí que o gestor cultural precisava usar a criatividade para promover
o desenvolvimento desta questão. O recurso financeiro não é o problema, nem
tampouco a solução. O fomento é um processo que requer habilidade, estudo e
perpassa por todos os setores, sobretudo na compreensão de quem não entende
nada ou quase nada do fenômeno cultural. Posso passar uma manhã inteira
discutindo sobre fomento e explicar a uma Procuradoria, por exemplo, que um artista
que é reconhecido por seus pares em sua localidade não precisa ter reconhecimento
nacional para propor um contrato por inexigibilidade.
Criar estratégias, requer “apoiar
centros, incubadoras e agrupamentos criativos”. São nelas que as ideias e os
planos acontecem. Me dá um bocadinho só
de recursos para você ver o que nós somos capazes de fazer. Entretanto,
precisamos urgentemente “melhorar a alfabetização digital para garantir o
acesso a diversos conteúdos digitais”, preconiza a Unesco. E isso só acontece se a gente “desenvolver
novas parcerias colaborativas”. É juntar SEBRAE, universidades, ongs, prefeituras,
pesquisadores, fazedores de arte, investidores, iniciativa privada. Deixa Romualdo
Lisboa ter condições para criar o Parque Aldeia das Artes para ver o que ele é
capaz de fazer. Deixa Toninho só pensar em música erudita para ver o que
acontece. Você já pensou se Manu Pessoa tivesse todo o tempo do mundo para soltar
a cor e o pincel em seus traçados multicoloridos e inimagináveis. Eu poderia
citar aqui dezenas de artistas para qualificar os exemplos frente aos desafios em
que me encontro. Ainda não tenho todas as ferramentas, muito menos os recursos
necessários, a execução dos projetos. Mas sei que estou no caminho certo e
continuarei apoiando todo e qualquer sistema sustentável de governança para a
Cultura.
No entanto, e enquanto isso, vivo a
todo instante repensando as políticas culturais, tentando entender as mídias
públicas, navegando neste ambiente digital gigante e buscando parcerias com a
sociedade civil. É nesta que reside nossa maior redenção. Pena, que muitos
ainda não entenderam isso.
*Escritor, gestor cultural e atual Secretário Municipal da Cultura de Ilhéus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário