sábado, 25 de fevereiro de 2012

HOJE TEM ESPETÁCULO!

Tânia Barbosa é Ana, a primeira dama

Assisti ontem a estreia de "O Inspetor Geral", sob a batuta e criatividade do meu amigo, Romualdo Lisboa. Não fui assistir ao espetáculo como um bizantino. Aquele tipo de espectador que está ali somente para descortinar as falhas. Como disse Alessandro Fersen em "O Teatro, em suma", o bizantino "entrega-se ao enredo com cautela. O acontecimento dramático chega até ele filtrado através de diafragmas culturais."

Contrário a este tipo, aderi de corpo e alma à trama. Minha adesão foi acrítica. Embora, como todo espectador naif  farei aqui algumas considerações. Mas todas elas estão ligadas à emoção que o espetáculo me proporcionou. Mesmo tendo lido o texto antes, já que o mesmo foi lançado em livro há alguns meses atrás.

Hermilo é o prefeito Gilton

A experiência teatral é algo que me deixa inquieto. A inquietude vem para mim de forma intensa. Eu me entrego e talvez não me entregue totalmente por conhecer de perto o evento teatral e isto provoca um certo distanciamento. Que é bom. Em um espectador naif  "a atenção para o detalhe vale apenas como passagem obrigatória para as fases sucessivas da trama." E ela, a trama, costurada e engendrada por Romualdo Lisboa ganha força e surpreende através de seus personagens como Nestor (o tal "impostor" que é interpretado por Aldenor) e Gilton Munheca (sob a caracterização de Hermilo Menezes). Sem desmerecer a criatividade dos demais, pois, cada um deles, limitado aos seus personagens, interpretam intensamente a vida que lhes foi apresentada.

É fato que Ilha Bela - uma pequena e pacata cidade do Sul da Bahia - nada tem de pacata. Entretanto, a ilusão e as peripécias, seguidas pela mal do século (a corrupção) deixam a história mais divertida, conduzido-nos à responsabilidade de refletir sobre esta doença que nos assola desde os tempos do Império.

Ver "O Inspetor Geral" que em alguns momentos deixam as cadeiras do Teatro Municipal rangendo. Talvez pelo discurso longo (e nem por isso desnecessário) em uma ou duas situações na Pensão Vasco, é imprescindível. O mais simples dos efeitos farsescos, a precisão do tempo em cada quadro, o som de certas palavras, mesmo destituídas do verdadeiro humor quando se trata de uma denúncia, faz de "O Inspetor Geral" o espetáculo.

O Teatro se renova a cada apresentação. É fato que a estreia, sobretudo na própria casa, remete a um certo nervosismo que passou despercebido. Pelo menos, para mim. Como diretor, eu apararia algumas arestas. Diminuiria o som (ou até mesmo eliminaria) em pequenos espaços. Ele interferiu, desnecessariamente, em alguns trechos. Com isso, não diminuo nem critico o maestro-ator e autor da trilha sonora: Cabeça, que interpreta o Chefe do Correio, Ivan.

Enfim, se fosse um espectador bizantino diria que a estrutura principal do espetáculo seria o tempo teatral. Aqui, a atenção extirpa a expectativa. Porém, nunca deixarei de ser um naif. Pois, como diria Fersen: "O tempo "interno" contradiz a duração objetiva do espetáculo: uma avidez insaciável de futuro caracteriza a qualidade dessa atenção teatral." 

Vida longa ao Inspertor Geral! Viva a Cultura Popular!

O que? O Inspetor Geral
Quando? Hoje, 25 e amanhã, 26 de fevereiro
Onde? Teatro Municipal de Ilhéus
Quanto? R$ 20,00 e R$ 10,00

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