O escritor, produtor e coordenador da
Flica Emmanuel Mirdad retorna à ficção, mais precisamente aos contos, depois de
um breve passeio pela poesia no ano passado, e lança seu novo livro, O grito do mar na noite, pela editora
Via Litterarum, a mesma que realizou a sua estreia em 2010 com Abrupta sede, também de contos.
Dedicado ao mestre do conto Hélio Pólvora,
falecido em março passado, O grito do mar
na noite apresenta “um agudo painel das relações humanas, sobretudo
afetivas, nas quais homens e mulheres expõem suas fraquezas ante a banalidade
da vida e do tempo”, segundo o escritor Márcio Matos, que assina a orelha, “no
equilíbrio entre o que se mostra e o que fica subentendido”.
Para o escritor Mayrant Gallo, que assina
o posfácio, Emmanuel Mirdad realiza, em seus 10 contos, “um feito altamente
elogiável: trabalhar com tipos, sem meramente repeti-los, revitalizando-os,
inclusive. Acompanhamos, com igual interesse, tanto o infortúnio do homem de
terceira idade, do menino doente, do sujeito infeliz em seus relacionamentos
amorosos, da mulher assexuada, quanto o dos mulherengos contemporâneos”.
O
grito do mar na noite, com as suas 172 páginas, “é uma nova
proposta extraída de um propósito único: retratar o nosso mundo. Cada conto é
uma fotografia de um álbum espúrio”, segundo Mayrant, e que “os signos da
contemporaneidade sobejam em todo o volume, numa evidência explícita à vida que
levamos, em meio a uma multiplicação infindável de ícones da propaganda,
internet, dos aparelhos de celulares, tablets, games, canais de tevê por
assinatura etc.”.
Já para Márcio Matos, “ciente disso,
Emmanuel Mirdad (foto abaixo) realiza com o livro de contos um rigoroso exercício”, e,
relembrando o mestre Cortázar, cuja especificidade do conto é o poder de vencer
por nocaute, “Mirdad move-se pelo ringue na certeira intenção de deixar o
leitor tonto e, quando este baixa a guarda, aplica-lhe o golpe fatal”.
O conto que abre O grito do mar na noite é Chá
de boldo, sobre o abandono de pessoas pela própria família, que, para
Márcio, “somos ‘golpeados’ por duas grandes qualidades de Mirdad: a maturidade
para tratar de temas espinhosos e a mínima concessão com a linearidade
narrativa”. Sol de abril apresenta a
bela e triste história de Lourdes, a sanfoneira caolha, em paralelo à canção Assum Preto, de Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira, e Assexuada traz o dilema
de Monique, a mulher que nunca gozou e não se importa, mas quer vivenciar o
amor – sem sexo, é possível?
Em O
banquete, “racismo, imigração ilegal, preconceito social e racial, além de
heroísmo efêmero, tão a gosto do jornalismo televisivo, funcionam como uma
espécie de painel difuso do nosso mundo cotidiano, tão caótico”, revela
Mayrant, que se divertiu com as desventuras amorosas do “autodestrutível
Casanova às avessas” Pedro Henrique, no conto Receba, em que o protagonista, “muito embora consciente de seus
quase êxitos, e especialmente de seus fracassos, mantém a linha, segue em
frente e volta a se aventurar, como o boxeador tonto de Chaplin”.
Márcio Matos destaca o conto Quase onze dias, que classifica como “tour de force”, em que o autor “cita
ícones do momento e brinca com a antítese passado-presente, demonstrando que os
grandes feitos inserem-se na trivialidade do dia a dia (mesmo a hedionda trivialidade
dos crimes passionais)”. Já para Mayrant Gallo, o conto Bonecas, que traz a derrocada ou a libertação de um macho alfa aos
desejos homossexuais, “tem na sua essência o propósito de ironia, motor mais
constante da alta literatura e palco de autores como o contista Orígenes Lessa
(mal lido e mal compreendido) e Nelson Rodrigues, especialmente o mais
cáustico, de A vida como ela é”.
O título da obra é um anagrama para os
livros O grito da perdiz (1983), Mar de Azov (1986) e Noites Vivas (1972), de Hélio Pólvora,
uma das principais referências literárias de Mirdad, que é fã do estilo
primoroso do escritor baiano, morto aos 86 anos em março passado, e selecionou
dez trechos da obra do mestre para abrir os contos de O grito do mar na noite, que traz, na capa, a bela fotografia de
uma embarcação à noite de Theu Cerqueira (www.theucerqueira.tumblr.com).
Baiano de Salvador, de outubro de 1980,
formado em Jornalismo pela Facom – UFBA, sócio-diretor da produtora Cali,
Emmanuel Mirdad é um dos criadores, donos da marca e coordenadores da Flica,
evento em que foi curador de 2012 a 2014. Autor dos livros Nostalgia da lama (Cousa/2014), de poesia, e Abrupta sede (Via Litterarum/2010), de contos, é roteirista, compositor
e produtor cultural com mais de 15 anos de carreira. Site: www.mirdad.com.br
Um comentário:
Grato pelo espaço, meu caro!
Espero lançar o livro por aí, em breve.
Grande abraço!
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