O Diário de Ilhéus, em sua edição nº 3.203, de 19 a 22 de janeiro de 2018, publicou esta entrevista com o novo secretário da Cultura do Município de Ilhéus. Reproduzimos aqui para que mais agentes culturais conheçam como pensa o novo gestor cultural da cidade.
O
senhor está assumindo a Secretaria da Cultura do Município de Ilhéus, era o seu
projeto ou foi uma consequência do seu trabalho na área?
Acredito que seja uma consequência natural. Minhas atividades ao
longo destes últimos dez anos em pró de uma cultura mais comprometida, mais
estruturada, mais dinâmica, mais raiz, tem me permitido percorrer os quatro
cantos da Bahia demonstrando que experiência é importante, mais cultura se faz
com profissionalismo e gestão.
2- Qual o
modelo de gestão o Sr. Pretende implementar na sua administração?
Um modelo extremamente participativo. Na Cultura tudo que a
gente pensa, tem que pensar de forma coletiva. A responsabilidade deve ser
compartilhada. Se você propõe um edital precisa ouvir o público alvo deste
mesmo edital. Não dá para gerir de forma estrábica. Você precisa ser altruísta,
precisa respeitar, precisa ouvir, ouvir e ouvir. Fazer, é uma consequência. O
resultado é muito importante, mas o processo é mais ainda.
3- Quais
são os seus projetos para a área da Cultura no município?
Antes de pensar em projetos, precisamos primeiro no conceito de
Cultura que que se deseja trabalhar. A partir da ideia que você faz de Cultura,
você começa a construir um programa que se desdobra em projetos, estes em
atividades e estas em metas. Assim, concebo Cultura a partir de sua principal
tridimensionalidade: simbólica, cidadã e econômica. Estas três dimensões
traduzem um conceito antropológico da Cultura e me permite pensá-la a partir de
quatro linhas de ação: Fomento, Memória, Inclusão e Empreendedorismo. Em
fomento, eu estimulo a criação, a fruição e a produção; em Memória eu mantenho vivo
a nossa história, os nossos espaços, a nossa gente; em Inclusão em construo um
programa de formação de plateia, descentralizo e desconcentro as ações
culturais numa via de mão dupla: centro-periferia, periferia-centro e em
empreendedorismo eu provoco o empoderamento, o profissionalismo, o
comprometimento do agente cultural. Na
prática, ações como editais de fomento, revitalização de espaços culturais,
qualificação e capacitação do agente cultural, festivais de música, teatro e
dança, são algumas das ações que a Secretaria irá propor.
4- Como o
secretário pretende líder com os diversos movimentos e seguimentos culturais do
município?
De maneira extremamente transparente, sem paternalismo,
protecionismo, casuísmo e outros ismos que só servem para interromper o
diálogo, travar o processo e bloquear o novo. Sou todo “ouvidos”. Tenho minhas
convicções, meus argumentos, minha fé. Mas isso não quer dizer que eu seja
inflexível.
5- Existiam
projetos e aspirações do conselho de cultura que foram interrompidos por
gestões e ideologias. O Sr. vai retomar esses projetos dialogando ou executando
com os grupos distintos?
Posso lhe dizer sem nenhum quiproquó que os projetos e as
aspirações do CMC não foram interrompidos. Pelo contrário, foram vilipendiados pela
gestão passada. A ausência de transparência com os recursos do fundo foi um
grave problema. Não pretendo motivar o uso de um só real do Fundo Municipal de
Cultura se não ouvir primeiro o conselho. São eles que conhecem as necessidades
das câmaras setoriais. Portanto, eles são corresponsáveis por uma possível
malversação dos recursos. Se eu errar, eles erram também. O diálogo com o CMC
já começou.
6- Numa
cidade com o imenso patrimônio material – grande parte abandonado - e
também um vasto patrimônio imaterial, não preservado, como essas questões serão
abordadas?
A gente precisa adequar a Lei nº 2.312/89 que trata da
delimitação do centro histórico e estabelece os critérios de conservação e
preservação do patrimônio ao novo Código Tributário do Município de Ilhéus.
Sobretudo o artigo 12 que trata do desconto do IPTU para os prédios tombados. E
adequar a Lei nº 2.314/89 sobre os tombamentos futuros do Município, tanto os
bens materiais como os imateriais. Não tenho conhecimento do Município ter
tombado sequer um bem imaterial. A Puxada do Mastro, por exemplo, é uma festa
que precisa ser tombada. Além disso, precisamos trabalhar muito a educação
patrimonial e criar um programa que crie multiplicadores “pertencentistas”.
Queremos ainda fortalecer a Rede de Museus, criar um sistema setorial da área e
conseguir uma sede para o Instituto Histórico e Geográfico de Ilhéus que já tem
mais de 50 anos e nunca possuiu um espaço próprio.
7- Como
ficam os patrimônios culturais, especificamente a Casa de Jorge Amado, que foi
ameaçada, no atual governo, de ser privatizada?
Parcerias públicas privadas, quando bem gestadas, funcionam.
Veja o exemplo da Casa do Rio Vermelho, em Salvador. Mas o governo precisa
acompanhar de perto, não pode deixar correr solto, sem fiscalização. O prefeito
não pensa, nem nunca pensou em privatizar a Casa Jorge Amado. Pelo contrário,
em breve haverá uma reforma estrutural. A ideia é torná-la um monumento vivo,
como os museus contemporâneos. Paulinho, atual gestor da casa, tem feito um
belo trabalho de conservação e atendimento na casa. A tendência é melhorar.
8- O seu
relacionamento com a UESC é muito bom, o Sr. Pretende estreitar esse
relacionamento através de projetos e parcerias, com a UESC e outras
instituições?
Com certeza. Tenho alguns projetos que vamos desenvolver com a
UESC. Na verdade já iniciamos. Todas as ações que desenvolvermos com a
universidade não vai ser pensando unicamente na cidade, mas na região como um
todo. O que for bom para Ilhéus, será bom para Coaraci, Itajuípe, Una,
Canavieiras...
9- As
questões relacionadas a sua área são imensas, não trataríamos numa entrevista,
porém sobre o patrimônio material, o ser pretende intervir para evitar a
degradação total do Palácio Episcopal e da União Protetora?
O Palácio Episcopal já foi beneficiado com uma emenda
parlamentar e será restaurado brevemente pelo IPAC. Quanto a União Protetora
ainda preciso me situar antes de tomar qualquer providência em relação ao
espaço. Mas, lhe garanto, que ela está nos meus planos.
10- (......)
esteja a vontade?
Há
muito expectativa na comunidade cultural em torno do meu nome. Trabalho muito
com os pés no chão. Não vou conseguir agradar todos. Nem Jesus conseguiu esta
façanha. Farei o que for possível para tornar Ilhéus melhor para quem produz
cultura, para quem vive cultura, para quem saboreia arte. Confio em Mário
Alexandre e tenho certeza que seu convite não foi casual. A confiança é
recíproca. Espero desenvolver acordos que promovam a diversidade cultural, o caráter aberto da cultura e a importância
da criação e da participação cultural.
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