quinta-feira, 29 de agosto de 2013

EDITORIAL

SOBRE FUNDOS E CONTINGENCIAMENTOS
Gordo Neto*


"O repasse das duas empresas (Oi e Coelba) no valor de 51,73 milhões (total), sendo 38,8 milhões exclusivamente "para o Fundo de Cultura da Bahia, no exercício de 2013", parece ter sido para pagar os selecionados da edição anterior dos editais." 

Os 21 editas a serem lançados pela Secult-Ba, Secretaria de Cultura do Estado da Bahia no dia 20 de agosto tiveram seu lançamento cancelado. Os editais prometidos podem ser vistos, em resumo, em:http://www.cultura.ba.gov.br/editais-setoriais-2014/. Estes editais somariam um investimento de 30,6 milhões, provenientes do FCBA - Fundo de Cultura do Estado da Bahia, criado em 2005. Antes usado sobretudo para projetos que do próprio governo estadual e portanto pouco direcionado às propostas da sociedade civil, o FCBA tem sido desde 2007 um mecanismo que, apesar da dificuldade de gestão, transformou-se num grande fomentador da cultura no estado - em todo o estado, inclusive, e não apenas em Salvador, onde, por muitos anos, concentrou seus recursos. Esta, a meu ver, é a parte boa da história. A parte ruim, péssima, é a fragilidade do mecanismo, que não tem orçamento próprio e, paradoxalmente, é, da mesma forma que o mecanismo de incentivo fiscal do estado, o FAZCULTURA, operado com isenção de impostos. Os recursos deste fundo, dependem, quase que totalmente, da boa vontade de empresas privadas! Veja, por exemplo, esta outra "boa" notícia, também no sítio da Secult, onde se comemora o repasse que a Oi e da Coelba fizeram ao fundo:

Mesmo sendo, teoricamente, não contingenciável, ou seja, não possível de deixar de usufruir plenamente dos recursos a ele destinados, o FCBA tem operado "como se" fosse contingenciável. E este parece ser o motivo de a Secult-Ba "adiou" o lançamento dos tais 21 editais. 

O repasse das duas empresas (Oi e Coelba) no valor de 51,73 milhões (total), sendo 38,8 milhões exclusivamente "para o Fundo de Cultura da Bahia, no exercício de 2013", parece ter sido para pagar os selecionados da edição anterior dos editais. Ou não? Se eram pra pagar os já contemplados, então a lógica é: primeiro lança, depois capta e por fim repassa-se os recursos para a execução efetiva do projeto? Não devia ser ao contrário? E se for o contrário, primeiro capta, depois lança e por fim repassa, tem algo errado, porque só ficamos na captação: o lançamento foi adiado e o repasse, portanto, tá bem longe...

Reparem bem: há uma discussão começando a ser feita, nacionalmente, nobre esse mecanismo específico: os fundos. Uma das idéias recorrentes, e à qual eu sou particularmente um defensor ferrenho, é a de que haja tanto a vinculação orçamentaria (PEC 150) que garanta percentual do orçamento geral da união, estados e municípios para o MINC e as secretarias(ou órgão que funcione como tal, dedicado exclusivamente à cultura) e que para além disso, outra vinculação orçamentaria se estabeleça entre estes órgãos e seus fundos de cultura. Resumindo: garantia de recursos mínimos para a cultura e, dentro destes recursos, percentual mínimo para que a fundos operem anualmente com um patamar seguro, que lhe permita planejar, realizar e repassar os recursos. Se a gestão dos Fundos de Cultura for fluida, transparente e democrática, uma boa parte dos problemas que temos hoje na área cultural estarão sanados.

Assine a petição abaixo, é um apoio à PEC 150, aquela que propõe 2%, 1,5% e 1% dos orçamentos da união, estados e municípios destinados à cultura:

http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2013N42624



* Gordo Neto, ator e diretor de Teatro/Salvador-Bahia.
Membro do Colegiado Setorial de Teatro da Bahia.

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