sexta-feira, 8 de abril de 2011

BIZANTINOS E NAIFS NA PLATEIA

Fersen (1911-2001)

Alessandro Fersen foi precursor dos “laboratórios-escola” e das “oficinas” que hoje surgem por toda parte, na Itália e em diversos países. No seu livro-depoimento “O Teatro, em suma”, é basicamente o relato de sua fascinante experiência: o nascimento e a evolução de um novo conceito de Teatro, mais próximo de suas origens míticas e rituais e, em seu todo, mais adequado aos desejos da sociedade atual.


Na primeira parte da obra (A situação teatral), ao falar sobre a agonia do espectador, ele nos descreve dois indivíduos, completamente distintos, que sempre estão na plateia, sentados um ao lado do outro, entretanto – como ele mesmo diz – “oferecem o exemplo mais flagrante de duas qualidades opostas de atenção teatral”.

Ele estava referindo-se ao espectador “naif” e ao espectador “bizantino”. O primeiro adere de corpo e alma à trama do espetáculo; sua adesão é acrítica. Foi ao teatro para deixar-se envolver por uma “história”. Transferiu-se para o palco assim que o pano se levantou: é um ator visual. Agora está concentrado na fala dos atores-personagens e até imita o movimento de seus lábios, repetindo interiormente cada palavra que é pronunciada. Depois, vai até fazer algumas críticas: mas todas elas dependerão da possibilidade de participação que o espetáculo lhe propiciou.

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Por outro lado, aprecia o espetáculo o espectador bizantino. O acontecimento dramático chega até ele filtrado através de seus diafragmas culturais. Entrega-se ao enredo com cautela. Sua atenção crítica despe o personagem de seu disfarce e põe a nu o ator que assumiu a alma do personagem. Com a mesma frieza, o olho bizantino examina o cenário, as roupas, o jogo de luzes; enquanto isso, o ouvido distingue as músicas da cena. A avaliação que resulta disso diz respeito à direção, estabelece comparações com o texto, ratifica o nível dramatúrgico do roteiro inédito.

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Segundo Fersen, apaixonar-se pela “história” apresentada não fica bem para o público elitista: a ingenuidade é uma remota história infantil.

E você? É um espectador “naif” ou bizantino?

(Quer ler mais? Acesse: http://www.teatrototalilheus.blogspot.com/ ou leia a edição de amanhã, 09/11, do Diário de Ilhéus, caderno 2, pp. 1)

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